Vitória Diniz de Souza


A HISTÓRIA DAS MULHERES E DO MOVIMENTO FEMINISTA E SUA ABORDAGEM NO ENSINO DE HISTÓRIA



Introdução
Para aqueles que acreditavam na morte do feminismo no início dos anos 2000, não esperavam pela sua popularidade em 2019. A discussão sobre o seu fim, pois as mulheres já tinham conquistado sua sonhada “igualdade” se fazia presente nas revistas e programas de televisão da época. Porém, quase vinte anos se passaram e o movimento feminista está cada vez mais inserido em diferentes mídias, gerando discussões e polêmicas na internet, o meio de comunicação mais utilizado atualmente. Já que essa temática se faz tão presente no dia a dia dos jovens, é interessante traze-la para a escola e nela discutir de maneira crítica com os alunos. Nas aulas de História é possível problematiza-la e historiciza-la de diferentes maneiras e construir um conhecimento sobre o assunto com a turma.

As mudanças epistemológicas ocorridas na historiografia no século passado, nos desafia a conceber o conhecimento histórico de outras formas que aquela produzida pela historiografia tradicional. A emergência do movimento da Escola dos Annales e da Nova História nos proporcionaram novas reflexões, que contribuíram definitivamente para o surgimento de novas temáticas e aportes teórico-metodológicos. Com a História Social e a história vista de baixo, as temáticas sobre mulheres, operários, prisioneiros e camponeses ganharam seu espaço.

A história das mulheres é uma área de pesquisa já consolidada no meio acadêmico, entretanto, pouco explorada em sala de aula nas escolas do país, apesar da ação de educadoras(es) em prol do ensino dessa temática nas aulas de história. Sua trajetória se entrelaça com a do feminismo, que no auge dos anos 1960 suas militantes defendiam a necessidade de se combater a exclusão das mulheres na história, promovendo novos olhares sobre a historiografia e sua epistemologia. Docentes mobilizaram-se propondo a instauração de cursos, nas universidades, dedicados aos estudos das mulheres. Multiplicaram-se as pesquisas, tornando-se a história das mulheres, dessa forma, um campo relativamente reconhecido no âmbito institucional e internacional, como afirmam as historiadoras Rachel Soihet e Joana Maria Pedro [2007].

Com as redes sociais, a militância feminista e suas pautas estão se disseminando com mais agilidade. Seu ativismo vem ganhando adeptas em todo o mundo e levando várias mulheres as ruas em diferentes partes do mundo. Assédio sexual, feminicídio, machismo e desigualdade de gênero são termos que estão nas rodas de conversas, nos grupos do facebook e whatsapp, incentivando as mulheres a denunciarem a violência que sofrem diariamente na sociedade. Por isso, a relevância do tema e a sua importância em ser discutido com as(os) alunas(os) nas escolas. As possibilidades para a abordagem da história das mulheres e do movimento feminista no ensino de história são muitas, nesse texto, iremos abordar algumas delas.

A História das Mulheres e sua relação com os Estudos de Gênero
Gênero é uma categoria de análise desenvolvida por pesquisadoras feministas para desnaturalizar as diferenças sexuais atribuídas entre homens e mulheres. Para as historiadoras Rachel Soihet e Joana Maria Pedro [2007], o artigo da historiadora Joan Scott é um marco desses estudos no Brasil, quando foi publicado em 1990 na ‘Revista Educação e Realidade’, intitulado: ‘Gênero: uma categoria útil de análise histórica’, e que tem sido, certamente, um dos mais citados, nas discussões que pretendem abordar a categoria “gênero” nas análises da pesquisa histórica. Desde então, historiadoras(es) brasileiras(os) têm desenvolvido pesquisas com esse enfoque, abrangendo a discussão para questões de identidade, raça, sexualidade, etnia, regionalidade, entre outros. Resumindo:

“”gênero” dá ênfase ao caráter fundamentalmente social, cultural, das distinções baseadas no sexo, afastando o fantasma da naturalização; dá precisão à ideia de assimetria e de hierarquia nas relações entre homens e mulheres, incorporando a dimensão das relações de poder [SOIHET; PEDRO, 2007, p. 288] ”.

A propósito, é importante percebemos que ao longo do tempo foram estabelecidos espaços sociais diferenciados para homens e mulheres, por isso, o conceito de gênero é fundamental para compreendermos o caráter cultural dessas distinções, entre ideias sobre o feminino e o masculino. Tendo as discriminações de gênero assumido diferentes formas, variando com o momento histórico e o lugar, sendo historicamente justificada mediante a atribuição de qualidades e traços de temperamento diferentes a homens e mulheres, que são utilizados para delimitar seus espaços de atuação. Dessa maneira, a categoria gênero nos fornece uma gama de possíveis análises sobre as diferentes experiências dos sujeitos, que variam de acordo com as classificações sobre o que é feminino e o que é masculino. A antropóloga Adriana Piscitelli [2009, p. 143] defende que é preciso pensar “como as construções de masculinidade e feminilidade são criadas na articulação com outras diferenças [...] e como essas noções se embaralham e misturam no corpo de todas as pessoas”. Gênero é uma categoria de análise e também de transformação, permitindo o diálogo para outras possibilidades e questionamentos, a pedagoga Guacira Lopes Louro defende que:

“é preciso recolocar o debate no campo do social, pois é nele que se constroem e se reproduzem as relações (desiguais) entre os sujeitos. As justificativas para as desigualdades precisariam ser buscadas não nas diferenças biológicas (se é que mesmo essas podem ser compreendidas fora de sua constituição social), mas sim nos arranjos sociais, na história, nas condições de acesso aos recursos da sociedade, nas formas de representação [LOURO, 2003, p. 22] “.

Em diversas pesquisas sobre a história das mulheres se utiliza a categoria de gênero para desnaturalizar e desconstruir as representações criadas sobre as mulheres e as relações de poder que as permeiam. Como o processo de invisibilidade sofrido pelas mulheres na construção da memória coletiva e os poucos vestígios materiais deixados por elas ao longo do tempo. Michelle Perrot, em seu livro ‘Excluídos da História’ [2006], afirma que inicialmente as historiadoras feministas procuravam visibilizar as mulheres na história, produzindo pesquisas com intuito de preencher essas lacunas, sendo que, em pesquisas mais recentes contribui também para a reavaliação do poder das mulheres, buscando superar o discurso miserabilista da opressão, de subverter o ponto de vista da dominação.

A história das mulheres e das relações de gênero possibilita desconstruir essa aparente naturalidade da diferença sexual e da submissão das mulheres à soberania masculina. Sendo, dessa maneira, possível romper com a dicotomia homem/mulher, forte/fraco, emoção/razão que permeiam o senso comum. Rachel Soihet e Joana Maria Pedro [2007, p. 290-291] ao fazerem considerações sobre o artigo de Joan Scott:

“Finaliza argumentando que um conceito relativizado de gênero, como um saber historicamente específico sobre a diferença sexual, permite, às feministas, forjar um instrumento analítico que possibilita gerar um conhecimento novo sobre as mulheres e sobre a diferença sexual, e inspirar desafios críticos às políticas da história ou de qualquer outra disciplina. A história feminista deixa, então, de ser apenas uma tentativa de corrigir ou suplementar um registro incompleto do passado, e se torna um modo de compreender criticamente como a história opera enquanto lugar de produção do saber de gênero “.

Como abordar a história do movimento feminista em sala de aula
Primeiramente, antes de planejar uma aula sobre o tema, é preciso definir o que é o feminismo, levando em consideração que não existe um grupo feminista, mas grupos feministas. Pensar o feminismo como objeto de análise requer defini-lo como um movimento político diversificado e nada homogêneo. Por isso, se utiliza o termo “feminismos” para denominar correntes de pensamento diversificadas que, no geral, procuram construir uma sociedade mais justa para as mulheres, rompendo com essa estrutura de poder desigual entre as pessoas.

Buscar origens para o feminismo talvez não seja a melhor abordagem nas aulas de história, porque não é possível datar com precisão o início do feminismo, tendo em vista que é um movimento, além de que, a história do feminismo não é linear, com começo, meio e fim. O que percebemos é que existem diferentes correntes de pensamento feministas desde o século XIX quando o termo passa a ser utilizado para designar essas mulheres, e que a partir desse período mudanças significativas ocorreram na sociedade ocidental relacionadas as práticas feministas.

Portanto, ao analisar o feminismo é preciso aborda-lo em consonância com o período histórico em que está inserido, o espaço e as relações de poder então instituídas. Levando em consideração os sujeitos envolvidos, quais eram as seus ideais e suas práticas, seu lugar social e quais eram as suas estratégias para subverter a ordem estabelecida. Procurando conhecer também as dificuldades então enfrentadas, provocando os alunos a problematizarem sobre.
        
Na História do Brasil é possível encontrarmos a formação de um pensamento feminista ainda no século XIX. Muitas vezes de maneira isolada algumas mulheres reivindicavam alguns direitos, como é o exemplo, da escritora e educadora abolicionista Nísia Floresta do estado do Rio Grande do Norte, que em 1832 publica o livro ‘Direito das mulheres e injustiça dos homens’, uma adaptação da obra da inglesa Mary Wollstonecraft de 1792. A partir da década de 1870 encontramos um aumento significativo de periódicos dirigidos por mulheres e defendendo o direito das mulheres, fazendo críticas a sua situação na sociedade.

É muito importante que essas discussões sejam feitas nas aulas de história e que ao estudarmos o século XIX tratemos de discutir sobre os movimentos sociais e políticos, como o feminista e o abolicionista. O final do século XIX e início do século XX é um período da efervescência de diferentes correntes de pensamento que precisam ser abordadas. No que tange ao feminismo há um livro muito bom que pode auxiliar professoras(es) em sala de aula, por tratar de um vasto acervo de fontes que podem ser trabalhadas, intitulado ‘Imprensa feminina e feminista no Brasil. Século XIX’ da pesquisadora Constância Lima Duarte. Ele é um dicionário ilustrado que organiza em ordem alfabética e cronológica os diferentes periódicos dedicados ao público feminino da época. Ele pode ajudar as(os) educadoras(es) a escolher fontes e aborda-las em sala de aula. Em sua maioria, são periódicos digitalizados, possíveis de serem encontrados em sites, como na ‘Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional’ que possui um acervo de vários periódicos que circularam em diferentes lugares do país.

Ao que se sabe hoje, foi apenas no início do século XX que começaram a se formar grupos e associações feministas no Brasil, como é o caso da “Federação Brasileira para o Progresso Feminino” (FBPF) criada por Betha Lutz, um dos nomes mais expressivos do movimento nesse período. Ela deixou um acervo de fontes para pesquisadores, além de ter escrito em diversos periódicos da época. Outro nome bem expressivo é o de Maria Lacerda de Moura que divergia constantemente com Bertha Lutz sobre como o feminismo deveria agir na luta por direitos. Ela também publicou na imprensa da época, tendo se filiado ao movimento anarquista e, posteriormente, ao Partido Comunista. Entre as vantagens de se estudar sobre essas duas mulheres é que há um número expressivo de trabalhos e livros sobre a sua atuação.

O direito ao voto é considerado um marco das conquistas feministas nesse período, porém, suas reivindicações não se reduzirão a ele. Muitas lutavam pelo direito a educação de qualidade para a população feminina, para trabalharem sem que precisassem da autorização do marido, por direitos civis e jurídicos, condições dignas de trabalho, licença do trabalho após o parto e creches, para citar algumas delas. Diversas associações de espalharam pelo Brasil, muitas dessas mulheres publicavam na imprensa e eram professoras. Além disso, algumas se candidataram a cargos políticos e conseguiram se eleger em seus estados. Infelizmente, após o golpe de Getúlio Vargas em 1937 e a instauração de uma ditadura, o movimento perdeu fôlego.

Desde então, o movimento feminista só iria gerar grande repercussão novamente nas décadas de 1960 e 1970, em plena Ditadura Civil-Militar. Entretanto, bem diferente do que vimos nas décadas de 1920 e 1930. Questões acerca da sexualidade e controle reprodutivo ganharam destaque. Muitas dessas mulheres questionaram o status quo e as relações de gênero estabelecidas no período.

Atualmente é possível encontrar nos livros didáticos menções ao movimento feminista, em capítulos acerca da Primeira República e da Ditadura Civil-Militar, porém, seria interessante aprofundar essas discussões e não apenas fazer um apanhado geral sobre o que foi o período. Por exemplo, é preciso instigar os alunos, provocando-os a questionar a realidade e fazer uma “ponte” entre passado e presente. Principalmente, refletirem sobre a pertinências das questões levantadas pelo movimento feminista, suas contradições e as mudanças ocorridas por sua causa.

Por essa razão, o trabalho com fontes históricas em sala de aula possibilita uma interação e autonomia dos estudantes na construção do conhecimento histórico escolar, intermediado pelo professor. Como, por exemplo, cartas, diários, jornais, revistas e livros. Alguns são possíveis de serem encontrados em acervos digitalizados na internet, outros em arquivos e instituições públicas. Há menções e reproduções desses documentos em artigos, monografias, dissertações e teses, a partir de pesquisas sobre o tema que podem ser encontrados em acervos das bibliotecas das universidades e no seu repositório digital. Dessa maneira, podemos também trazer parte da produção acadêmica para as escolas e instigar os estudantes acerca deles. Não é preciso trabalhar textos completos, mas trechos e discutir com os alunos em sala. Além disso, há livros de historiadoras que tratam desse assunto, acessíveis ao público geral, como, por exemplo, ‘Uma História do Feminismo no Brasil’ de Celí Regina Pinto [2003], ‘Feminismos e antifeminismos’ da Rachel Soihet [2013] e a coleção ‘Nova História das Mulheres no Brasil’ organizada por Carla Bassanezi Pinsky e Joana Maria Pedro [2012].

As possibilidades para a abordagem desse assunto são variadas, podendo o(a) professor(a) aproveitar para introduzir essas discussões em temas tradicionais do ensino de história: Segundo Reinado, Primeira República, Ditadura Civil-Militar, Nova República. Outra alternativa é quebrar com essa ideia de linearidade, fazendo uma aula temática. Além disso, utilizar as próprias dúvidas dos alunos em relação ao feminismo para elaborar uma aula pode ser um caminho interessante, a partir de desafios e dúvidas do presente e ponderando sobre as relações passado-presente. Em meio a isso, por que não pesquisar sobre mulheres feministas e organizações locais, sejam as mais antigas, como as atuais. Pode-se então formar grupos e coordenar os alunos em pesquisas sobre o feminismo a partir de diferentes recortes e depois eles apresentarem os resultados para a turma.

As discussões sobre as relações de gênero podem fornecer alguns aportes metodológicos de análise interessantes para trazer a sala de aula. Assim, refletir sobre o caráter cultural e social das distinções sexuais e como elas foram representadas ao longo do tempo, aparentando uma ideia de naturalidade. Sendo que, elas foram utilizadas por muito tempo para deslegitimar o movimento feminista, acusando as mulheres de estarem agindo contra a sua natureza ao enfrentar as injustiças sofridas e reclamarem direitos.

Conclusão
O objetivo desse texto é fazer algumas ponderações sobre as possibilidades de se abordar a história do feminismo nas aulas de história. Sem dúvida, os movimentos feministas estão em evidência atualmente, porém, ainda perduram muitos estigmas e preconceitos acerca deles. Infelizmente, vivemos em uma sociedade que a taxa de feminicídios é muito alta, mulheres são violentadas por seus companheiros e mortas diariamente. Casos de assédio sexual e estupros estão sendo denunciados, revelando a situação de medo e acuamento sofridos por muitas mulheres subjugadas por homens poderosos.

Ao tratar da história do feminismo é preciso considerar a relação dessas mulheres com o seu contexto histórico, tendo elas assumido diferentes perspectivas. Esse movimento não é homogêneo, sendo muitas vezes contraditório. Como é o caso das mulheres negras que tiveram suas reivindicações negligenciadas por mulheres brancas. Sendo que, existem relações de poder também entre mulheres, gerando conflitos entre elas. O feminismo atualmente se expandiu em diferentes correntes de pensamento, a mais aceita é a do feminismo interseccional, que propõe estabelecer as relações do machismo com outras formas de opressão.

É importante também discutir sobre o antifeminismo e como ele dificulta que muitas reivindicações feministas sejam compreendidas pelas pessoas. Ele se expressa por meio de piadas, chacotas e ameaças para caracterizar as feministas enquanto mulheres desequilibradas e loucas, gerando mais preconceitos. Muitas mulheres são constrangidas ao se nomearem enquanto feministas, provocando o receio também de outras mulheres que desconhecem o movimento. O antifeminismo esteve presente de diversas maneiras ao longo do tempo, sendo importante estuda-lo também.

Para finalizar, é importante salientar a dificuldade enfrentada por educadores para discutir assuntos relacionadas ao feminismo, sexualidade e gênero, pois estão sendo acusados de doutrinação de gênero, marxista, esquerdista, inimigo da família. Vivemos um período de fortalecimento da extrema direita no mundo e no Brasil, movimentos como o “Escola Sem-Partido” têm buscado silenciar professores. Por isso, é preciso ter cuidado e cautela ao abordar esses assuntos em sala de aula, apesar disso, toda essa situação só demonstra a importância de se discutir essas questões na escola e resistir a essa onda conservadora que tem se espalhado.

Referências:
Vitória Diniz de Souza formada em História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

DUARTE, C. L. Imprensa feminina e feminista no Brasil: Século XIX: Dicionário Ilustrado. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

LOURO, G. L. Gênero, Sexualidade e Educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

PEDRO, J. M.; SOIHET, R. A emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 27, nº 54, 2007, p. 281-300.

PERROT, M. Os Excluídos da História: Operários, mulheres e prisioneiros. 4 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.

PINSKY, C. B.; PEDRO, J. M. (Orgs.). Nova História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2012.

PINTO, C. R. J. Uma História do Feminismo no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003.

PISCITELLI, A. Gênero: a história de um conceito. In: ALMEIDA, H. B. de; SZWAKO, J. (orgs.). Diferenças, Igualdade. São Paulo: Berlendis e Vertecchia, 2009, pp. 116-148.

SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. 20(2), Jul./Dez., 1990, pp. 71-99.

SOIHET, R. Feminismos e antifeminismos: mulheres e suas lutas pela conquista dacidadania plena. Rio de Janeiro: 7letras, 2013.

17 comentários:

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  2. Obrigada pelo texto, reflexões muito pertinentes. Gostaria de perguntar sobre desafios no campo da historiografia da história das mulheres. Como contemplar também na discussão sobre gênero, elementos de raca, classe e etnia? Entendo que as mulheres formam uma categoria plural, mas que sofre com opressões que atravessam esses marcadores, como violência de gênero, violência obstétrica, desigualdade salarial, cultura do estupro e limitado acesso aos nossos direitos reprodutivos. Penso que uma nova perspectiva historiográfica também deve dar conta desses desafios do tempo presente ao pensar sempre em incluir uma gama de sujeitas. Obrigada.
    Jeane Carla Oliveira de Melo

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    1. Bom comentário. A história das mulheres hoje está trazendo novas reflexões e abordagens, principalmente, a partir dos estudos descolonialistas e do feminismo negro. Como, por exemplo, a crítica feita sobre o feminismo branco e o silenciamento sofrido pelas mulheres negras ao longo do tempo. Por isso, ao discutir gênero, é fundamental também discutir sobre raça, classe social, nacionalidade e etnia. Recomendo o texto protagonismo ignorado da Bebel Nepomuceno presente no livro Nova História das Mulheres da Carla B. Pinsky e da Joana M. Pedro.
      Assinatura: Vitória Diniz de Souza

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  3. Achei extremamente pertinente seu texto, e gostei muito. Minha dúvida segue a questão de trabalhar o feminismo em sala de aula, creio ser uma temática que requer uma faixa etária; discutir os ideais feministas, me refiro a igualdade devem ser feito e podem ser incluídos em conteúdos cotidianos sem necessariamente uma abordagem isolada do tema. Minha dúvida é a seguinte, trabalhar o movimento feminista, suas pautas e diversidade, tem uma faixa etária mais apropriada ou pode ser feito tanto no fundamental quanto no ensino médio?
    Pergunto pela ideia de abordagem que você propôs com o trabalho de fontes históricas, e tendo em vista que trabalhar um assunto mais complexo como feminismo e fonte histórica na sala de aula depende e varia com a série. Obrigada!
    Sara Fernanda Zan

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    1. Eu acredito que o feminismo pode ser trabalhado em sala a partir de qualquer faixa etária. O que muda é a abordagem, quais serão as fontes e os temas que serão discutidos juntamente. Para os mais novos é possível discutir sobre a conquista do espaço público, o direito a educação. Introduzir essas reflexões ao abordar como as mulheres viviam no passado e o porquê da pouquíssima presença delas no livro didático. Enquanto aos mais velhos é possível discutir acerca do corpo e da sexualidade, sobre os direitos reprodutivos, mas com muito cuidado e cautela para evitar má interpretações. É importante antes de introduzir o assunto analisar a recepção da sala e da comunidade ao tema, pois ela varia entre diferentes contextos e instituições.
      Ass: Vitória Diniz de Souza

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  4. Gostei muito da sua discussão sobre esse assunto. Na minha graduação estudei sobre a História das mulheres. Como você acha que deve ser abordado esse tema nas séries iniciais? Sabendo que pouco se fala nos livros. Obrigada. Cássia Keline Lacerda Silva

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    1. Fazer esse questionamento já é o primeiro passo. A pouquíssima presença das mulheres nos livros didáticos nos permite iniciar a discussão dessa maneira. Seria de grande valia conversar com os alunos sobre isso. E também, oferecer alternativas, outros recursos didáticos para a sala, não apenas o livro.
      Vitória Diniz de Souza

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  5. Muito interessante a abordagem, parabéns! É muito importante a abordagem de assuntos dentro da pauta feminista nas escolas, ainda mais no Brasil, que foi colocado no ranking como quinto país que mais mata mulheres no mundo, com esse número alarmante podemos perceber como as mulheres são oprimidas por um patriarcado que já se torna estrutural, que rodeia e sufoca as mulheres desde dentro dos seios de suas famílias. Sendo assim, gostaria de saber, como a escola pode manter um diálogo com os pais, para que os próprios preconceitos deles não interfira, mas que pelo contrário também os ajude, no ensino dessas temáticas, que também abrange educação sexual e outros fatores que são vistos como tabu perante a sociedade?

    Camila dos Santos da Costa

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    1. Infelizmente o preconceito em relação a esses temas não está apenas nos pais e alunos, mas também na escola, entre os próprios professores. Acredito que a primeira coisa a se fazer é criar uma rede de apoio entre os colegas, que essa discussão esteja presente na sala dos professores, entre os funcionários, assim facilitaria esse diálogo com os pais e alunos, o professor não estaria tão sozinho. Mas caso isso não aconteça, a melhor maneira é introduzir o assunto é de forma sutil e vá observando a reação dos alunos em relação a isso.
      Vitória Diniz de Souza

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  6. O feminismo como sabemos é um grande movimento de luta contra as desigualdades sociais em direitos e deveres de homens e mulheres, possuindo varias vertentes. A ignorância e o desprovimento de inteligencia em relação a esse assunto é grande, é comum vermos noticias distorcidas sobre o movimento na internet. Então como vocês pretendem combater esse tipo de mentalidade patriarcal e sexistas que acabam por sustentar essas desigualdades, que alimentam também a discriminação em relação ao movimento?
    Evelin Aparecida da Silveira Miranda

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    1. Não existe resposta fácil para essa pergunta. Infelizmente o machismo está enraizado na nossa cultura, porém, o primeiro passo é conversarmos sobre o assunto, discutirmos acerca dos problemas causados por essa mentalidade. É preciso desnaturalizar essas concepções e esses comportamentos no cotidiano primeiramente. Recomendo sempre a leitura como maneira de abrir a mente e pensar.
      Ass.: Vitória Diniz de Souza

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  7. Parabéns pelo texto. Acho interessantíssima a discussão sobre feminismo na sala de aula. Primeiramente por ser o primeiro contato que os alunos em geral tem com a teoria. Em segundo pela capacidade que o tema tem de transformar a vida das meninas que um dia se tornarão mulheres e precisarão estar preparadas para o mundo.
    Minha questão é se as redes sociais, embora tenham ajudado a dar um Boom no tema entre 2018-2019, podem ter, de mesmo modo, ajudado a descaracterizar o movimento aos que não são adeptos da ideia, com base em tanta Fake News espalhada no último ano e como esta descaracterização podem influenciar na maneira que os alunos receberiam a teoria em sala de aula.

    Letícia Veitas Novelli

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    1. As mentiras e distorções espalhadas pela internet sobre o feminismo contribuíram para a descaracterização do movimento e também provocam maior receio nas pessoas quando tentamos introduzir o assunto para a discussão. No entanto, elas ajudaram a colocar o assunto em pauta novamente, já que andava meio esquecido. Acredito que apesar das dificuldades que enfrentamos ao abordar o tema, é possível mesmo assim manter o diálogo. Tente abordar o feminismo em sala sem o nome feminismo e experimente observar a reação das alunas e alunos. Muitas vezes precisamos ser criativos para conseguirmos nos comunicarmos verdadeiramente com a turma. Novas abordagens são sempre interessantes.
      Ass.: Vitória Diniz de Souza

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  8. Parabéns pelo texto! Considera usar a mídia cinematográfica para instigar o debate em sala? Tem alguma sugestão de filme/série?

    Yasmine Ávila Catarinozzi da Costa

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  9. Olá colega, parabéns pelo texto! Um diferencial do teu trabalho é trazer sugestões de como abordar a temática em sala de aula (porque vejo poucos textos que se arriscam nas dicas e sugestões). Acredito que tenha sido muito acertado da tua parte e concordo muito com as tuas colocações! É fundamental que o feminismo, a história das mulheres, assim como assuntos como direitos LGBT, racismo, homofobia, machismo, preconceito, sejam abordados em sala de aula, independente da faixa etária. Ainda mais agora no período em que vivemos, a resistência através da educação se faz necessária. Como você acha que os professores podem lidar com perseguições e intimidações, inspiradas pelo movimento escola sem partido, quando abordarem essas questões em sala de aula? Agradeço pela disponibilização do seu texto.

    Alana Thais Basso

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  10. Vitória, apenas gostaria de dizer que seu trabalho é maravilhoso! Há uns 11 anos, fiz minha monografia, em um curso de história, sobre cursos de formação feminista. Imagine como era. Infelizmente percebo que o engessamento não se limita ao ensino, mas também a própria historiografia e campo do conhecimento. Concorda? Iniciativas como a sua, como as nossas, são fundamentais. Andreia Costa Souza

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