Marize Helena de Campos


ESTRATÉGIAS TESTAMENTÁRIAS E PODERES FEMININOS NO MARANHÃO SETECENTISTA



Maranhão, primeira metade do século XVIII.

Muitos são os historiadores que ao escrever sobre o local afirmam que a paisagem de então era caracterizada pela pobreza, onde grande parte dos colonos, concentrados maciçamente na chamada Ilha do Maranhão, nas Vilas de Santo Antônio de Alcântara, Santa Maria do Icatu ou em pequenas povoações localizadas as margens dos rios Itapecuru, Mearim, Pindaré e Munim, dedicavam-se a engenhos, fazendas de gado e a uma agricultura que sequer supria a demanda local. Segundo os estudiosos, a precariedade das atividades econômicas naquele recorte territorial e temporal podia ser observada também na ausência de moedas para intermediar as transações comerciais, que não raras vezes eram estabelecidas por varas de pano, novelos de fio de algodão ou outros produtos da terra.

Esse estado de letargia viria a modificar-se com paulatinas e decisivas alterações na política mercantil durante o Governo de D. José I, onde sob a atuação de Sebastião José Carvalho de Melo, Marques de Pombal uma série de expedientes foram postos em prática no sentido de superar a crise econômica.

Se, até aquele momento, os olhos da metrópole portuguesa reluziam pelas pepitas de ouro e pedras preciosas extraídas dos solos das Geraese o açúcar continuava a adoçar os paladares e lucros europeus, a partir de 1755, outros produtos entrariam na pauta das exportações coloniais estimulados pela criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, dentre os quais: o algodão, o arroz e o gado.

Criada e materializada sob a égide do “absolutismo da razão”, a Companhia fora anunciada como um dos caminhos para solucionar o abandono, atraso e dificuldades econômicas daquela região que, desde o século anterior, assim figurava nas palavras do Padre Antônio Vieira quando se referia aos protestos vindos do Senado da Câmara de São Luís, bem como aos argumentos do motim dos irmãos Beckman.

A Companhia operou regularmente por dois decênios, até ser extinta em 25 de fevereiro de 1778. Sob sua ação, estado e grandes comerciantes aliaram-se para desenvolver uma agricultura voltada aos interesses do mercado externo, e os resultados dessa política apareceram rapidamente com o crescimento das exportações de algodão e de arroz.

Em 1760, os primeiros sintomas decorrentes da instalação da Companhia já se faziam sentir. Naquele ano registrou-se a exportação de 130 sacas de algodão, num total de 651 arrobas, e em 1767 das primeiras 225 arrobas de arroz. Apesar das oscilações, o algodão, seguiu durante toda a primeira metade do século XIX como o eixo da economia maranhense. Assim, a economia exportadora maranhense, regida por uma demanda externa em franca expansão, cresceu consideravelmente ao longo dos últimos decênios do século XVIII e dos dois primeiros do século seguinte. Foi a idade de ouro da lavoura maranhense.

Riqueza e pobreza no Maranhão parecem ter caminhado lado a lado desde o início do processo colonial, mas a bradada pobreza em tempos anteriores à criação da Companhia do Grão-Pará e Maranhão não parece ter sido a realidade de muitos jesuítas que ali viveram. O mesmo se deu após 1755, pois se verificamos testamentos de mulheres que pouco tinham, além de um catre e umas poucas roupas, também houve as que apresentaram uma impressionante relação de bens. Não houve, portanto, um contexto homogêneo e coagulado num antes infortúnio e um subsequente áureo.

É nesse cenário que se desenrolam algumas das histórias de mulheres que agora rompem o cerco de uma historiografia que por tanto tempo as manteve invisibilizadas. Senhoras de posses, de estratégias, de vontades, aguerridas, destemidas, batalhadoras, que longe de passar os dias em sonolentas redes, ao grosso e morno ar do Maranhão, estavam cuidando de suas lavouras, garantindo a posse de suas terras, contabilizando suas cabeças de gado, enfim... atuando na dinâmica econômica e social em que estavam inseridas.

Regências Matriarcais no Maranhão setecentista

Em nosso estudo das últimas vontades das testantes no Maranhão ficou claro que a decisão sobre o destino do patrimônio foi o privilegiamento de outras mulheres, contrariando declaradamente o sistema de sucessão igualitário. A explicação dessa atitude pode residir em uma estratégica rede de proteção e solidariedade que extrapolava os laços familiares, uma vez que nem todas tinham herdeiros forçados e podiam dispor livremente de seu patrimônio.

Observou-se que grande parte das legatárias eram filhas, sobrinhas, netas ou afilhadas, e os legados preferencialmente escravos, joias, casas, ou parte delas, utensílios domésticos, roupas pessoais e de cama, louças e dinheiro. Nesse sentido, os arquétipos femininos franzinos, entregues à reclusão e ao silêncio, metidas em quartos, cobertas pela vergonha de estranhos ou em histéricos gritos de vontades mostram-se destoantes dos perfis emergidos naqueles documentos. De acordo com a legislação portuguesa, consolidada nas Ordenações Filipinas de 1603, a mulher poderia assumir o papel de cabeça do casal caso o marido falecesse, e todos deveriam estar sujeitos ao seu poder.

No caso de pessoas solteiras ou viúvas, o patrimônio arrolado, após descontadas as dívidas, seria dividido em três partes iguais, sendo duas destinadas aos herdeiros e uma à terça, que corresponderia à fração que o indivíduo poderia ter destinado livremente em testamento. Isso as fazia “donas” suas vontades e determinações, donas de bens, mas acima de tudo, donas de estratégias legatárias pois, como já foi assinalado, no estudo do qual derivam estas páginas, ficou claro que ao escolher mulheres da família ou do círculo afectivo para o legado dos bens principais atestavam seus poderes decisórios. 

Os testamentos nos permitiram também, vislumbrar cenas, modos de vida, comportamentos e preocupações de mulheres que explodiam uma energia social, e não simplesmente doméstica, maior que a do comum dos homens. Energia para administrar fazendas (...); energia para dirigir a política partidária da família (...); energia guerreira, como aponta Freyre em Sobrados e Mocambos.

Nesse sentido, os arquétipos femininos franzinos, entregues à reclusão e ao silêncio, metidas em quartos, cobertas pela vergonha de estranhos ou em histéricos gritos de vontades mostram-se destoantes dos perfis emergidos naqueles documentos. 

É o caso de Maria Isabel Freire, natural de São Luís do Maranhão, filha legítima de Joaquim da Serra Freire e de dona Maria Magdalena Belfort, jáfalecidos. Casada por carta de ametade com o Tenente Coronel João Paulo Carneiro Lourenço, nunca teve filhos, motivo pelo qual não tinha herdeiro necessário dispondo da ametade dos bens do casal a seu livre-arbítrio. Ao fazer seu testamento, declarou encontrar-se em perfeito juízo e entendimento. No mesmo documento elencou os seguintes bens e herdeiros: Seiscentos mil réis para a sobrinha Joanna, filha de sua irmã Luiza; Seiscentos mil réis para a sobrinha e afilhada Maria Raimunda, filha da dita irmã Luiza; Cem mil réis para o sobrinho Joaquim, também filho da dita irmã; Quatrocentos centos mil réis para seu sobrinho Joze Lima Nunes Berlfort, filho do Capitão Thomas; Legoa e meia de terra que tem no Rio Preto para todos os filhos e filhas da sua irmã Luiza; Seiscentos mil réis para sua sobrinha e afilhada Maria Magdalena, filha de sua falecida irmã Izabel; Duzentos mil réis para cada sobrinha, filha de sua irmã Izabel, a saber: Luiza, Francisca, Izabel, Jozefa e Izidora; Humcento e duzento mil réispara sua sobrinha Cândida, filha de sua falecida irmã Joanna; Trezentos mil réis, para Amélia, filha da dita irmã Joanna; Quatrocentos mil réis para seu sobrinho Raimundo, filho da dita irmã Joanna; Trezentos mil réis para seu sobrinho Cezar, filho da dita irmã Joanna; Oitocentos mil réis para seu sobrinho Joze Joaquim Henrique, também filho da dita irmã Izabel; Seis escravos, tres machos e tres femias para sua sobrinha Maria Magdalena da Serra Freire e a seu marido Raimundo Nunes; Hum escravo ou escrava para sua irmã Ignácia; Um tabuleiro de chá de prata, uma bacia e uma jarra de prata para seu sobrinho Sebastião Gomes, filho de sua irmã Ignácia; Um bule, uma cafeteira, uma leiteira e um açucareiro de prata para sua sobrinha Olímpia, filha de sua falecida irmã Francisca; Cinqüenta braços de terras de frente com uma légua de fundo em paraje da nomeada Santa Anna no Rio Itapecurú para a sua irmã Lourença; Cinqüenta mil réis para o filho de sua prima Maria Magdalena; Cento e cinqüenta mil réis para sua afilhada Julianna, filha de seu primo João Carlos da Serra; Cento e cinqüenta mil réis para a afilhada Raimunda, filha de sua prima (sic!); Cem mil réis para Marcio, filho de seu primo Francisco da Serra; Seiscentos mil réis para a afilhada Maria Izabel,filha de sua sobrinha e afilhada Donna Maria Joaquina Henriques; Cinqüenta mil réis para a Capela de Nossa Senhora do Desterro; Cinqüenta mil réis para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição; Cinqüenta mil réis para (sic!) de Santo Antonio; Duzentos mil réis para (sic!); Cem mil réis para ser repartido entre os pobres. Declarou mais que deixava libertas as escravas Andreza e a mulata Antonia Pernambucana. 

Outra mulher da família Belfort a demonstrar, pelo seu testamento, ter passado ao largo da letargia apregoada durante tantos anos pela historiografia é Francisca Maria Berfort, viúva de Leonel Fernandes Vieira, do qual teve os filhos Joze Joaquim Vieira Belfort, Joaquim Antonio Vieira Belfort, Dona Maria Joaquina Vieira Belfort e Dona Rita Joaquina Vieira Belfort, todos nomeados seus legítimos herdeiros. Quando fez seu testamento, declarou estar doente de cama, porém em seu perfeito juízo e entendimento. No documento, ditado um dia antes de sua morte, fez o seguinte elenco de suas posses e legatários: A casa e o sítio da fazenda na ribeira do Itapecurú para o seu filho Joze Joaquim Vieira Belfort; Dois contos de réis para a sua neta Maria Rita Belfort, filha do dito seu filho Joze Joaquim; Oito contos de réis, vallor das cazas em que morava na Rua das Mercês, para a sua filha Dona Maria Joaquina Vieira Belfort; Os aluguéis, que a sua filha Maria Joaquina lhe devia, deveriam ser repartidos em duas partes iguais; uma para a neta Dona Carlota Joaquina Bandeira e a outra para a neta Dona Líbia Bandeira; Seis contos de réis para as netas filhas de sua filha Dona Rita Joaquina Vieira Belfort, a saber: dous contos de reis para Roza Antonia Joaquina Leal, dous contos de reis para Dona Anna Leal e dous contos de reis para Dona Maria Leal; Dois contos de réis para seu neto Augusto César Bandeira e hum negro que já o havia prometido e ratificava; Um par de brincos de brilhantes para sua neta Roza Maria Joaquina Bandeira Belfort,casada com o Doutor Bandeira; Um anel de brilhantes de seu uso para sua neta Dona Carlota; Uma medalha e um anel de brilhantes do seu usopara sua filha Dona Rita Joaquina Belfort; Duzentos mil réis para o Recolhimento desta cidade; Quatrocentos mil réis para sua sobrinha e afilhada Dona Arcelindaque se achava no dito Recolhimento; Cem mil réis para as despesas da Igreja dos padres do Convento de Santo Antônio; Cinqüenta mil réis, para Nossa Senhora do Monte do Carmo; Cinqüenta mil réis de esmolla para Nossa Senhora das Mercês; Cem mil réis para o seu testamenteiro;  Duzentos mil réis para o seu afilhado Leonel Filho de Joaquim Freire; Suas roupas para as filhas Dona Maria Joaquina Belfort Bandeira, e Dona Rita Joaquina Vieira Belfort; Huma molata por nome Camilla e huma preta por nome Justina, a dita minha neta, a quem tenho dado (sic!); Huma preta crioulla por nome Ignacia, a sua neta Dona Carlota Bandeira; Huma crioulla também preta por nome Maria dos Reys, a sua neta Dona Líbia; Seis varas de pano grosso de roupa a cada hum de todos os seus escravos e escravas, sem excepçao.  Declarou mais que seu filho, o Doutor Joaquim Antonio Vieira Belfort, seu genro, o Doutor João Francisco Leal e Manoel Antonio Leitão Bandeira, eram seus devedores e elles bem sabem o que devem, os quaes justarao contas com o meu testamenteiro, para serem inteirados do saldo liquido das legitimas. Também pediu que voltasse a escrava emprestada para o dito Manoel Antonio Leitão Bandeira, a fim de que fosse incorporada ao monte do casal. Por fim, Roza Francisca determinou que fossem libertos sua escrava Vitória do Rozario e o escravo Mathias de sua fazenda no Itapecuru, pelos bons serviços que lhe haviam feito.

O testamento da Preta Anna Maria também apresenta a história de uma mulher que, ao morrer, havia acumulado significativos bens e dinheiro, todavia essa mulher era uma ex-escrava que em seu perfeito juízo e entendimento, mas, temendo a incerteza da morte a que estam sujeitos todos os viventes, fez “ordenar” seu testamento. Natural da Costa da Mina e batizada como verdadeira cristã, Anna Maria foi escrava do Reverendo Frei Florêncio Jozé de Brito, mercenário. Declarou, no documento, haver conseguido sua liberdade por cinqüenta mil réis (com licencaz de seus Prellados maiorez) e que vinha gozando “pacificamente” de tal liberdade desde três de julho de 1778. Também esclareceu não ter erdeiro algum azcendentes ou dezcendentes para seus limitados beinz, que eram: Huma escrava chamada Felícia, com huma cria de peito chamada Urbano (os quais já havia vendido ao seu primeiro testamenteiro, o senhor Jozé da Rocha Luiz, por presso certo de duzentos mil réis).Três varas de cordão de ouro divididas em três partes iguais, uma volta de contaz de pezcosso com suas chapinhas, um lasso de ouro, três pares de brincos, Huma cruz de ouro, dous pentinhos cobertos de ouro, hum par de botões do peito da camiza de ouro, huma Senhora da Conceiçam de ouro, hum Rozarinho misturado com contas de ouro e sua cruzinha de ouro, dous pares de botões de ouro de punhos, hum taxinho de cobre, huma bacia de arame, hum anel de pedra amarella e outro de ouro, os quais deixou à preta Roza, pela boa companhia e servisso, douz pares de botoenz de ouro dos punhos mais pequenos, os quais deixou ao rapazinho Peregrino, seu ex – escravo, a quem havia concedido alforria. Os mais móveis que se achassem em sua casa, deveriam, por sua vontade, ser divididos entre o testamenteiro (que aceitasse seu testamento) e a dita preta Roza. Declarou como seus devedores José Gonçalves, natural do Reino e morador em Cabello de Velha, da quantia de cinqüenta mil réis; Antonio Jozé, pardo, morador em Oeiras, trinta e oito mil e quatrocentos réis; Hum pretinho chamado Domingos das Chagas, duas pessas de seis mil e quatrocentos réis; Joam da Cruz, a quem havia emprestado trinta e dois mil réis para um negócio. Anna Maria determinou que seu testamenteiro fizesse as “diligências” necessárias para cobrar as tais dívidas, a fim de que suas últimas vontades fossem satisfeitas, dentre as quais que dissessem por sua alma cinco capellas de missas, mais huma a seu anjo de guarda, por sua tenção e outra para a santa de seu nome, pelas almas do Purgatório, outra pelas pessoas com quem tinha contratos ou fosse responsável. Por fim, nomeou por universal erdeiro do restante de seus bens seu primeiro testamenteiro, o Reverendo Jozé da Rocha Luz, pelos muitos obzequios e favores que lhe era tributária.

A reflexão sobre estas questões nos parece importante, não só pela necessidade de um entendimento mais aprofundado sobre quem estamos tratando, mas também para uma melhor compreensão sobre seus comportamentos e condutas no período proposto neste trabalho.

    
Conclusões

Durante toda a História as mulheres sempre estiveram presentes em diversas atividades, fossem elas domésticas ou públicas. No universo doméstico sempre estiveram na gerência do plantio e feitura de alimentos, costura das roupas, criação dos animais, enfim, de todos os detalhes estruturais para o funcionamento da casa e o atendimento das necessidades das pessoas que ali viviam, que muitas vezes não eram poucas. Tudo isso era um exaustivo (e invisibilizado) trabalho.

No caso do Maranhão colonial não foi diferente e embora as mulheres estivessem lidando em suas casas, hortas, plantações e criações, a historiografia pouco tratou de suas trajetórias. Nos conteúdos documentais percebemos que, longe de estarem ociosas, estavam na dinâmica de trabalhos em diversos setores. Os dados ali contidos mostram que eram sim senhoras de suas vontades, pois nos testamentos a grande maioria delas deixou para outras mulheres a grande parte dos bens que possuíam. Além disso, as disposições determinadas por aquelas mulheres apontam um detalhado repertório de objetos, que como já foi dito, foram deixados em grande parte a outras mulheres propiciando um empoderamento econômico de filhas, netas, sobrinhas e afilhadas.

Tencionou-se sobretudo mostrar como no Maranhão colonial as mulheres atuaram, tomaram decisões, participaram do povoamento, chefiaram famílias e gerenciaram bens próprios. Foram muitas histórias onde o poder, mínimo que fosse, traduziu-se em patrimônio e ou determinações, fazendo entrecruzar a História Econômica e a História das Mulheres. Assim, o artigo que ora se conclui visa contribuir não apenas com o aprofundamento das reflexões acerca da História do Maranhão, mas sim para o entendimento mais amplo da sociedade colonial americana.

Referências

Marize Helena de Campos é Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão – UFMA.

ABREU, Capistrano de. Capítulos de História Colonial: 1500 – 1800. 1907.
BACELLAR. Carlos de Almeida Prado. Família, herança e poder em São Paulo: 1765-1855. Estudos CEDHAL n. 7. São Paulo: FFLCH/USP, 1991.
FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento. Fortuna e família no cotidiano colonial.RJ: Ed. Nova Fronteira, 1998.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 9ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1961.
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. SP: Global, 2004.
GAYOSO, Raymundo Jozé de Souza. Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do Maranhão: suas producçoens e progressos que tem tido até ao presente. RJ: Editora Livros do Mundo Inteiro. Reedição Fac-similar sob patrocínio da SUDEMA, 1970.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. A Época Colonial. Tomo I, 2° volume: Administração, Economia, Sociedade. 4ª edição. RJ/SP: Difel, 1977.
MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. 3 ª edição. SP: Siciliano. 2001.
PERROT, Michelle. Minha História das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007.
PRADO Jr., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. SP: Brasiliense, 20ª edição, 1987.
SAMARA, Eni de Mesquita. Família, mulheres e povoamento: São Paulo, século XVII. Bauru, SP: EDUSC, 2003.
SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Donas e Plebéias na Sociedade Colonial. Coleção Histórias de Portugal. Lisboa. Editorial Estampa. 2002.
SOBRAL, Maria da Luz Lopes.Colonização e Desenvolvimento da Amazônia na 2ª metade do século XVIII. A intervenção da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778).
ZANATTA, Aline Antunes. Justiça e representações femininas: O divórcio entre a elite paulista (1765-1822). Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 2003.

16 comentários:

  1. Prezada Marize Helena de Campos,
    Confesso que fiquei fascinada pelo texto, cuja fluidez advém de uma redação acurada e de um tema interessantíssimo. A abordagem histórica dessas narrativas particulares auxilia-me a compreender e a problematizar estereotipias que se difundem, inclusive, nas representações literárias (que são meu campo de estudo).
    Durante a leitura dos testamentos, fiquei particularmente curiosa com a decisão de mulheres em alforriar alguns escravos enquanto outros eram entregues a legatários. A respeito disso, gostaria de saber:
    a) a alforria é uma decisão recorrente na totalidade dos testamentos femininos do período ou é uma particularidade dos testamentos desse trabalho?
    b) havia um critério pré-determinado ou recorrente na seleção dos escravos a serem alforriados ou essa decisão decorria exclusivamente de um apreço das senhoras em relação aos escravos?
    Se for possível esclarecer minhas dúvidas, ficarei muito grata. Mais uma vez, reforço minha estima por seu texto e desejo sucesso em suas pesquisas.
    Atenciosamente,
    Tatiane Kaspari.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tatiane, agradeço por suas palavras e pela questão que coloca. Fico muito feliz em saber que este estudo de algum modo contribuiu com as suas reflexões, pois um dos objetivos principais é exatamente provocar uma inquietação quanto a normatização de estereotipias comuns em discursos multifacetados ao longo da nossa História e, como vc muito bem pontuou, também nas representações literárias. Especificamente sobre os seus questionamentos:
      a) Sim, a alforria é uma decisão recorrente não na totalidade, mas em muitos testamentos, femininos e masculinos, não só recorte temporal desta pesquisa.
      b) Havia muitos motivos que levavam @ testante determinar a alforria de um@ escrav@. Em minha tese, intitulada “Senhoras Donas: economia, povoamento e vida material em terras maranhenses (1755 – 1822)” e que pode ser baixada integralmente na biblioteca digital da USP, há uma passagem em que eu trato especificamente das alforrias concedidas.
      Nesses registros, onde práticas e costumes desenham os perfis daquelas senhoras, não poderíamos deixar de assinalar as relações estabelecidas com seus escravos, por elas chamados machos, fêmeas, crias, pretinhos, molatinhos, escrava mulata, pretta crioula, rapariga, moleca, criolla rapariga, mulata rapariga, preta rapariga.
      Isso porque, para além da esfera do trabalho, a presença destes no cotidiano de suas senhoras marcava as relações pessoais e sociais, traduzindo-se nos testamentos pelo reconhecimento de laços afetivos, alforrias, recomendações, formas nominais de tratamento etc.
      Mary del Priore observa que outros mais forravam seus escravos “por amor e perdoavam, sabendo que a caridade era imprescindível à salvação” como fica claro nas determinações de Lourença da Conceição que deixou forro, izento de todo captiveiro para sua liberdade gozar donde bem lhe parescer, com carta de alforria , um rapaz por nome Joaquim que criou como seu filho; Margarida de Freitas que deixava forra sua escrava Thomazia pelo bem que lhe tinha servido; Anna Maria de Mello que deixou forra, pelo amor de Deos, a sua escrava Benta, pelos bons servissoz que sempre lhe fez. Por outro lado, muitas foram as Cartas condicionadas a valores, prestações de serviços ou ritos como Brizida de Souza que deixou livre e isento de todo o captiveyro por causa dos bons serviços o cafuzo João, com a condição de esse mandar-lhe dizer oito missas anualmente. Assim também Elena da Costa que possuía huns escravos, aos quais havia passado escriptura da alforia, que alguns pagaram com seus proprios dinheiros e outros pelos bons serviços que a tinham feito, sob condição de mandarem dizer todos os annos tres missas, cada hum, por sua alma durante suas vidas e darem ao Senhor Sao’ Joze de Ribamar três mil reis de esmolla; ao Santo Antônio da mesma Capella outros três mil reis; a Vicência, filha de seu afilhado Joze Manoel outros três mil réis e ao Anjo da sua guarda deveriam mandar dizer uma missa por sua alma, outra ao Santo de seu nome, outra pela alma de seu pai, outra pela alma de sua mãe e outra missa pela alma de seu marido, as quais se pagarão com seus trabalhos; Mônica Maciel Aranha e o escravo Domingos, para o qual concedia o prazo de seis meses para que pudesse comprar sua alforria ao preço de cento e quarenta mil réis: e caso não o fizesse, seria igualmente entregue, por seus testamenteiros, ao referido irmão; Maria de Nazaré que deixava forros, libertos do cativeiro por falecimento do ditto meu marido, seus escravos Raimundo Manoel Crioullo e a preta Anna Angolla; Maria Magdalena de Jesus que concedeu um ano para o escravo João Angola conseguir cento e oitenta mil réis para a sua liberdade e dois anos para Quitéria Mina conseguir quarenta mil réis e receber sua carta de liberdade e Joaquina Maria Garcia que disse conceder seis meses para sua escrava Juanna pagar cento e cincoenta mil réis por sua carta de liberdade, e quando a mesma forrar seu filho dará quarenta mil réis.
      Mais uma vez agradeço o seu interesse, com um grande abraço,
      Profa. Marize Campos

      Excluir
    2. Muito obrigada pela resposta! Sua tese foi incluída em minha lista de leituras!
      Abraço,
      Tatiane.

      Excluir
  2. Parabéns pelo artigo Marize, sempre é maravilho ler sobre o empoderamento feminino, principalmente em períodos onde é constante a invisibilidade desses sujeitos, como no Brasil Colonial, onde grande parte da historiografia deixa de lado a participação das mulheres. Nesse sentido, gostaria de saber se nos inventários havia algo mencionado sobre profissão ou de que forma essas mulheres sobreviviam ou construíram o patrimônio mencionado. Desde já agradeço a atenção, Att: Ligia Daniele Parra

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lígia, muito obrigada pelas suas palavras e pela possibilidade de diálogo que me apresenta. Veja, esta comunicação refere-se a minha tese de doutorado Senhoras Donas: economia, povoamento e vida material em terras maranhenses (1755 – 1822)” e se vc quiser pode baixá-la diretamente da biblioteca digital da USP. A base documental de análise foram testamentos. Nestes documentos foi possível sim alcançar as atividades daquelas mulheres. Não há uma referência direta como uma “profissão”, mas um contexto marcadamente agrícola são muitas as pistas que possibilitam entrever suas tarefas diárias. Costumo dizer que, ao pensarmos em economia no período colonial na América Portuguesa temos em mente atividades dirigidas exclusivamente por homens. Esta idéia foi impulsionada pela visão Freyriana que ao longo de seus trabalhos cristalizou as mulheres no perfil de submissas donas de casa que passavam seus dias ociosamente deitadas em redes dando ordens aos escravos. Partindo desse pressuposto a pesquisa que resultou na tese de Doutorado e agora nesta comunicação, teve como foco o Maranhão colonial, especificamente entre 1755 – 1822, anos que o caracterizaram como grande centro produtor e exportador de algodão e arroz. Tomando como marco a instalação da Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão, interessou-nos investigar a atuação das mulheres naquela dinâmica sócio-econômica como proprietárias de escravarias, jóias, imóveis etc., na agricultura e pecuária, solicitando sesmarias para instalarem lavouras, criando gados e legando seus bens a herdeiros. A análise foi realizada a partir de dados recolhidos em Cartas de Sesmarias, Testamentos, Inventários post-mortem de mulheres, do período de 1755-1822 no Maranhão, localizados no Arquivo Público do Estado do Maranhão – APEM, Arquivo do Tribunal de Justiça do Maranhão – ATJ e Arquivo Histórico Ultramarino – AHU e que possibilitaram alcançar informações detalhadas acerca do objeto e do período. Naquele cenário desenrolaram-se histórias de mulheres que agora rompem o cerco de uma historiografia que por tanto tempo as barrou. Senhoras de posses, de estratégias, de vontades, aguerridas, destemidas, batalhadoras, que longe de passar os dias em sonolentas redes, ao grosso e morno ar do Maranhão, estavam cuidando de suas lavouras, garantindo a posse de suas terras, contabilizando suas cabeças de gado, enfim, atuando na dinâmica econômica e social em que estavam inseridas. Com um grande abraço, Profa. Marize Campos.

      Excluir
    2. Nunca tinha refletido que o pensamento de Freyre teve esse tipo de desencadeamento na própria historiografia sobre a invisibilidade das mulheres, vou ler sua tese sim professora!
      Att: Ligia Daniele Parra, acadêmica do curso em Licenciatura de História na Universidade Estadual do Paraná, Campus de União da Vitória.

      Excluir
    3. Eu é que agradeço, Lígia. Espero que a leitura suscite mais reflexões, pois ainda há muito para desconstruirmos quanto a práticas que em última instância resultam em violências contra as mulheres. Um abraço e muito obrigada por este diálogo!

      Excluir
  3. No papel de mães e gestoras da vida privada, essas mulheres setecentistas não tinham voz em sociedade e mesmo diante do "poder" que lhes era dado com o falecimento dos maridos, ainda assim, elas não passavam de meras cuidadoras da casa e seguiam tudo o que lhes era ditado. Minha pergunta é sobre sua pesquisa: havia dentre os documentos estudados algum indício de que tais testamentos não fossem assim tão livres, ou seja, havia algo que fosse forçado e não o último desejo dessas mulheres? E ainda de acordo com sua pesquisa: há provas de que os bens elencados a destinatárias eram mesmo entregues a elas se solteiras?

    Susany Keilly Rubem Pereira.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada pelas suas considerações, Susany Keilly. Esta comunicação deriva de minha tese de doutorado intitulada “Senhoras Donas: economia, povoamento e vida material em terras maranhenses (1755 – 1822)” e depois de muito analisar os testamentos e estabelecer uma intersecção com a bibliografia correspondente ao tema, pude perceber que muitas daquelas mulheres não restringiam os seus papéis de sujeitos históricos apenas como mães e gestoras da vida privada. Também trabalho na perspectiva de que sim, tinham vozes, vontades e estratégias, que podem ser percebidos em falas muito diretas nos testamentos ou nas sutilezas das entrelinhas das suas determinações. Seus poderes estavam em larga medida circunscrito no universo doméstico, o que me levou a tomar como baliza conceitual a “micro-física do poder” de Michel Foucault. Outro aspecto, é que nem sempre o empoderamento econômico e político derivava do falecimento dos maridos, pois muitas das senhoras que estudei eram solteiras, mas mesmo que fossem viúvas a grande questão é como gerenciaram os seus bens. Costumo sempre ressaltar que ao pensarmos em economia no período colonial na América Portuguesa temos em mente atividades dirigidas exclusivamente por homens. Esta idéia foi impulsionada pela visão Freyriana que ao longo de seus trabalhos cristalizou as mulheres no perfil de submissas donas de casa que passavam seus dias ociosamente deitadas em redes dando ordens aos escravos. A análise foi realizada a partir de dados recolhidos em Cartas de Sesmarias, Testamentos, Inventários post-mortem de mulheres, do período de 1755-1822 no Maranhão, localizados no Arquivo Público do Estado do Maranhão – APEM, Arquivo do Tribunal de Justiça do Maranhão – ATJ e Arquivo Histórico Ultramarino – AHU e que possibilitaram alcançar informações detalhadas acerca do objeto e do período. Naquele cenário desenrolaram-se histórias de mulheres que agora rompem o cerco de uma historiografia que por tanto tempo as barrou. Senhoras de posses, de estratégias, de vontades, aguerridas, destemidas, batalhadoras, que longe de passar os dias em sonolentas redes, ao grosso e morno ar do Maranhão, estavam cuidando de suas lavouras, garantindo a posse de suas terras, contabilizando suas cabeças de gado, enfim, atuando na dinâmica econômica e social em que estavam inseridas.
      Especificamente sobre as suas perguntas, o estudo do qual deriva esta comunicação faz parte de um amplo rol composto por pesquisas sobre o mesmo tema em várias partes da América Portuguesa, ou do Brasil Imperial e foram orientadas pela Profa. Dra. Eni de Mesquita Samara – FFLCH USP e de modo geral os resultados foram os mesmos, determinações testamentárias que expressam de forma semelhante um encaminhamento dos legados e que contrariava a sociedade patriarcal vigente no sentido do privilegiamento de outras mulheres. Há que se considerar o peso do imaginário que a morte significava no substrato mental no período, muito bem abordada por Jean Delumeau, em sua obra História do Medo no Ocidente e por Philippe Ariès em História da Morte no Ocidente. Outrossim, as “provas” de que os bens elencados a destinatárias eram entregues às suas destinatárias, solteiras ou não, podem ser observados quando do cruzamento dos testamentos com os inventários daquelas que receberam os bens. Atenciosamente, Profa. Marize Campos.

      Excluir
  4. Que belíssima pesquisa professora, parabéns! As fontes apresentadas apontam para um meio social no qual as mulheres não estão silenciadas e que a história das mulheres não é somente possível mas necessária. Tenho duas curiosidades. Alguns testamentos fica claro o destino para igreja, demais instituições religiosas e de caridade. Isso era recorrente em ambos os sexos ou seria uma característica feminina? O último testamento citado é realmente primoroso, demonstra uma distancia entre os objetos citados nos testamentos anteriores e pergunto se não seria seu interesse aprofundar os estudos sobre cultura material? Entender quais objetos fazem parte de uma casa, aquilo que era considerado de valor, assim como também as jóias. Aparentemente joias representavam status social e isso independia de sua origem social (livres, escravas e libertas desejavam possuir jóias). Já pensou em aprofundar este tema? Mais uma vez parabéns pela pesquisa.
    Mara Lígia Fernandes Costa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mara Lígia, agradeço as suas palavras e considerações. De fato, uma das intenções do estudo foi contribuir para o romper o cerco de uma historiografia que por tanto tempo silenciou as vozes femininas. Quando somos postos frente, por exemplo, aos números do feminicídio no nosso país, vemos o quanto ainda temos para avançar e isso passa pelas nossas pesquisas, diálogos, debates e reflexões. Especificamente sobre as suas questões, o legado de bens para igreja, instituições religiosas e de caridade era sim recorrente em ambos os sexos, já que fortalecia a crença de um pós morte que teria por merecimento o céu. Duas obras que gosto muito e que tratam desta perspectiva aoconsiderar o peso do imaginário que a morte significava no substrato mental no período são, de Jean Delumeau, a obra História do Medo no Ocidente e de Philippe Ariès, História da Morte no Ocidente. Sobre o segundo ponto de abordagem, agradeço a sua refinada percepção no que se refere às diferenças entre o último testamento e os anteriores. De certo modo, tratei da vida material no estudo do qual derivou esta comunicação, a minha tese de doutorado “Senhoras Donas: economia, povoamento e vida material em terras maranhenses (1755 – 1822)” e que pode ser baixada na biblioteca digital da USP. Ao longo da pesquisa, foi possível um levantamento vasto e variado rol de pertences que nos permitiram acessar uma rica carga de informações sobre economia, patrimônio e vida material permitindo entrever, não só amostras do patrimônio daquelas mulheres, como também modos de viver, onde se destacam: 1. a rusticidade do escasso mobiliário, muitas vezes, compensado pela rouparia. Pudemos perceber que se dormia em grosseiros catres e redes, cercados por cortinados e forrados com lençóis de renda, da Bretanha ou de algodão. 2. os trajes que, nem sempre, ou quase nunca, luxuosos eram ornamentados com vistosos e requintados brincos de ouro ou diamantes, cordões e correntes de ouro, braceletes de coral, chapas e anéis de ouro. 3. apetrechos como esporas, ferro de cova, machados, candeeiros, martelos, rodas de ralar mandioca, etc., reveladores de um cotidiano marcado pela agricultura e criação de gado.
      Em outras palavras, o cenário complexo e repleto de detalhes do qual trata Fernanda Alves Costa em “Testamentos e Inventários: os laços matrimoniais entre forros e suas ligações com o comércio e a agricultura na Freguesia de Barra Longa (1750 – 1800)”.
      Em outras palavras, ao identificar os itens contidos nos testamentos, foi possível visualizar, ao menos em parte, formas de morar, comer, vestir e trabalhar, sob o prisma da realidade material.
      Mais uma vez agradeço imensamente o seu interesse e considerações, com um grande abraço,
      Profa. Marize Campos

      Excluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. Parabéns Profa. Marize uma riqueza incalculável tratar sobre nos mulheres sempre a frente do nosso tempo. Os documentos são fontes que precisam sempre serem explorados e indagados! Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom receber suas palavras, querida Ana Paula! Igualmente te parabenizo pelo texto que apresenta também neste importante simpósio! Simpósio inovador e que nos permite, em tempos tão difusos, trocar experiências e diálogos, tornando mais sólidas e profundas as nossas convicções e nos possibilitando conhecer importantes estudos desenvolvidos pelo Brasil. Um imenso abraço e sigamos na luta constante pelo conhecimento e educação de qualidade.

      Excluir
  7. Inicialmente, gostaria de agradecer a autora pela bela produção, é emocionante ler texto, aprendi muito dessa parte da história do Maranhão e sobre as lutas das mulheres. Me sinto privilegiada por te acesso a um material tão enriquecedor. Creio ser muito importante escrever sobre a história das mulheres, sobre lutas da mulheres, e fortalece nosso movimento, precisamos anunciar as vozes dessas mulheres que fora, são, estavam, estão silenciadas. Grata.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Judite, eu é que agradeço por palavras tão incentivadoras. Fico muito feliz por, de alguma forma, ter contribuído para o conhecimento das vivências em terras do Maranhão. Não tenho dúvidas que eram mulheres muito valentes, e que por isso também nos inspiram. Como vc, eu também acredito firmemente ser fundamental refletir, conhecer e escrever sobre a história das mulheres e suas (nossas) lutas. Convido você a baixar o conteúdo completo da minha tese de doutorado e que norteia esta comunicação. Trata-se da tese “Senhoras Donas: economia, povoamento e vida material em terras maranhenses (1755 – 1822), disponível para download na biblioteca digital da USP. Judite, veja algumas passagens da tese: “O que vamos apresentar de agora em diante é resultado de uma pesquisa que teve como preocupação central revisitar algumas mulheres, a partir de suas histórias no Maranhão colonial. A eleição dessa matéria-prima, ao mesmo tempo sujeito e objeto, encontra-se no conjunto do que a historiografia nomeou História das Mulheres e justifica-se pelo entendimento de que elas têm e participam das ações cotidianas em contraposição aos discursos de sujeitos secundários e subalternos com que foram abordadas durante séculos. Nesse cenário desenrolam-se histórias de mulheres que agora rompem o cerco de uma historiografia que por tanto tempo as barrou. Senhoras de posses, de estratégias, de vontades, aguerridas, destemidas, batalhadoras, que longe de passar os dias em sonolentas redes, ao grosso e morno ar do Maranhão, estavam cuidando de suas lavouras, garantindo a posse de suas terras, contabilizando suas cabeças de gado, enfim... atuando na dinâmica econômica e social em que estavam inseridas.
      Nas leituras, análises e problematizações alcançamos, entre tantas outras: Isabel, Clara, Maria, Ignês, Anna, Roza, Cezília, Margarida, Estácia, Bárbara, Marianna Viegas, Angela, Thereza, Jeronima, Benta, Ignacia, Gerarda, Angélica, Brígida, Marcella, Francisca, Claudina, Lourença, Mônica, Tomázia, Casemira, Joaquina, Catarina, Anicetta, Joanna, Vicência, Micaella, Apolônia, Caetana, Lucrécia, Carlota, Jozefa, Cândida, Bernardina, Raymunda, Antônia, Luzia, Luisa, Izidora, Ritta, Arcangila, Umbelina, Olimpia, Bonifácia, Cipriana Deuzulina, Auriliana, Derculina, Jesuína, Teodora... Sujeitos históricos que, por serem mulheres, “parecem” não ter história e nem participado da história maranhense. Ledo engano, pois de Isabel a Teodora, muitas Claras, Marias, Annas, Rozas, Raymundas, Antônias, Luzias, Luisas, Izidoras, Rittas, a seu modo, participaram das engrenagens que movimentaram a economia naqueles 67 anos. Histórias escritas nos Testamentos e nas Cartas de Sesmarias. Dedicamo-nos a um estudo centrado na condição feminina desejando, sobretudo mostrar como no Maranhão colonial as mulheres atuaram, tomaram decisões, participaram do povoamento, chefiaram famílias e gerenciaram bens próprios. Foram muitas histórias onde o poder, mínimo que fosse, traduziu-se em patrimônio e ou determinações, fazendo entrecruzar a História Econômica e a História das Mulheres. Com um grande abraço, Profa. Marize Campos.

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.