Cássia Regina da S. Rodrigues de Souza


EDUCAÇÃO DAS MÃES E CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO NOS DISCURSOS DO JORNAL “A MÃE DE FAMÍLIA”


A presente análise busca investigar os discursos higiênicos relacionados à maternidade difundidos pela comunidade médica no século XIX. Em um momento de esboço de uma sociedade burguesa em ascensão, à mulher foi atribuída a missão de ser a principal responsável pelo sucesso da família. A maternidade, tida como um ato de redenção, elevou a figura feminina, colocando-a como destaque e uma das principais destinatárias dos tratados médicos de então. Abaixo, podemos verificar o papel assumido pela mulher na sociedade brasileira desse período:

”Da esposa do rico comerciante ou do profissional liberal, do grande proprietário investidor ou do alto funcionário do governo, das mulheres passa a depender também o sucesso da família, quer em manter seu elevado nível e prestígio social já existente, quer em empurrar o status do grupo familiar mais e mais para cima” (D’INCAO, 2008, p.229).

Tais tratados tinham o objetivo de preparar a mulher tanto para a vida privada quanto pública e se propunham a redefinir o  seu papel pois, de acordo com a medicina oitocentista, o quadro familiar brasileiro não era adequado aos princípios higiênicos: “ as casas insalubres, os hábitos alimentares e de asseio corporal deploráveis, a educação física e intelectual abandonada (...)” (MARTINS, 2004,p.226), portanto, se dispunham a formar um determinado modelo de mãe, orientada e domesticada pela ciência, abençoada pela religião e idealizada pela Estado.

O jornal A Mãi de Família constitui uma amostra dos discursos médicos de finais dos Oitocentos. O periódico, fundado pelo médico Carlos Costa, tinha como mote a “educação da infância e a higiene da família” e representa o reflexo das teorias higiênicas vigentes que permearam o ensino médico no Brasil, onde a maternidade, estabelecida como função primordial da mulher, foi constituída como um campo de constantes debates. Através de sua análise foi possível perceber o lugar ocupado pela figura feminina e sua função de acordo com o pensamento médico do período examinado, onde ela é definida pelo seu útero, órgão considerado como parte central do corpo da mulher, e que exigia toda a atenção da classe médica, especialmente em ocasião de uma gestação. No discurso médico iluminista, a centralidade do útero constituiu um tema recorrente nas teses e compêndios de medicina.

A mortalidade infantil constituiu uma das grandes preocupações da classe médica desse período e traduziu-se por meio do cuidado com o bem-estar das populações que tomou forma a partir dos setecentos (PITA, 2006). Esse cuidado foi apontado como sendo fruto do sentimento de maternidade que, segundo o Philippe Àries (1981) e Elisabeth Badinter (1985) trata-se de uma construção relativamente recente da sociedade ocidental, desenvolvida gradativamente a partir do discurso médico e filosófico do século XVIII. Àries afirma que as crianças eram consideradas seres à parte das outras pessoas e que mal possuíam alma. Segundo ele, a sociedade tradicional pouco via a criança. A infância era reduzida ao seu período mais frágil. Logo que o “filhote do homem” adquirisse algum desembaraço físico, era logo misturado aos adultos. A passagem da criança pela família era muito breve para que a sensibilidade fosse despertada conforme atestado por   Willian  Buchan  ao discorrer sobre o sentimento de indiferença em relação aos infantes  no século XVIII: ”!Quanto trabajo y gasto se emplea para sustentar um viejo trémulo que vivirá pocos años!Y mil de aquellos que pueden ser útiles em la vida han de perecer sin ser mirados?”(BUCHAN, 1785, p.8). 

A marcação do período histórico onde verifica-se uma mudança no sentimento de cuidado da infância ainda é incerta. No entanto, Àries aponta que já no final do século XVI, na alta burguesia e nos nobres, grupos os quais analisa, observa-se uma alteração no estado das coisas. Já Edward Shorter afirma que, entre a gente vulgar, de quem se ocupa a sua pesquisa, a despreocupação tradicional em relação às crianças persistiu até pelo menos ao último quartel do século XVIII (SHORTER, 1975).

A fragilidade da vida infantil provocada pelas condições higiênicas da época justificaria a ausência de um sentimento de cuidado por parte das mães, defende Àries. Já Badinter questiona essa afirmação, sugerindo que era justamente a falta de apego das mães, o causador do alto índice de mortalidade. A autora assinala ainda, que algumas preocupações surgidas nos setecentos contribuíram juntamente para uma mudança nos cuidados com a infância:  discurso econômico, baseado em dados demográficos que sugeria um declínio populacional na Europa, provocado dentre outros fatores, pela mortalidade infantil e um discurso liberal que defendia ideais de liberdade, igualdade e felicidade individual. No entanto, de acordo com ela, foi no século XIX que essa preocupação atinge seu ápice, alterando de forma significativa a imagem da mãe, seu papel e sua importância (BADINTER, 1985:145).

A atenção aos infantes tornou-se pauta da Higiene, e as mães como responsáveis diretas por seu cuidado tornaram-se personagens centrais dos debates médicos nos Dezenove, perdurando até primeiras décadas do século XX. Os médicos acreditavam que o amor da mãe não era suficiente para uma boa formação dos filhos. Assim, como portadores da verdade científica propunham-se a ensinar os princípios higiênicos a fim de garantir crianças saudáveis, dirimindo dessa forma, os efeitos da mortalidade. Ana Paula Vosne Martins salienta que a partir do século XIX, o tom de alerta se eleva com a queda da natalidade entre as classes altas europeias; criar filhos não poderia ser deixado à boa vontade dos pais. Os médicos deveriam servir de guia (MARTINS, 2008). Na América Espanhola, os higienistas viam essa mortalidade não somente como uma ameaça biológica, mas como, uma negligência desumana para com “os seres mais desvalidos da sociedade” (LAVRIN, 1994).

As ideias de higiene ultrapassaram os muros da academia e da administração pública e chegaram a intimidade do lar espalhando-se pouco a pouco entre as famílias das classes altas.  Foucault em ‘Microfísica do Poder’ (1979, p.3) disserta sobre este fato:

“O corpo sadio, limpo, válido, o espaço purificado, límpido, arejado, a distribuição medicamente perfeita dos indivíduos nos lugares, dos leitos, dos utensílios, o jogo do ‘cuidadoso’ e do ‘cuidado’, constituem algumas das leis morais essenciais da família’”.

Além do contexto social brasileiro, a mulher torna-se peça importante no processo de higienização e modernização da sociedade e da família. Michelle Perrot a nomeia de “potência civilizadora”. Ela afirma ainda que a pesquisa em torno dos temas feministas contribuiu para a reavaliação do poder das mulheres como podemos verificar a seguir:

“Em sua vontade de superar o discurso miserabilista da opressão, de subverter o ponto de vista da dominação, ela procurou mostrar a presença, a ação das mulheres, a plenitude de seus papéis, e mesmo a coerência de sua ‘cultura’ e a existência de seus poderes” (PERROT, 1988, p.170).
        
A mulher-mãe, particularmente, torna-se uma figura que tende a superar todas as outras. A mãe burguesa passou nesse processo, de ouvinte a cúmplice da classe médica desenvolvendo dentro da intimidade do lar uma verdadeira medicina doméstica. A maternidade constituiu-se então a função principal dessa mulher assumindo o papel de depositária do futuro da nação. Sua condição foi elevada e sua figura enaltecida. Representava também a causa e a cura para as mães que possuíam algum desvio mental (ENGEL, 2008).

Como vimos, a mortalidade infantil era vista como decorrência do descaso na criação dos filhos. Dessa forma, era parte dos objetivos dos médicos transformar a famílias em células física e moralmente saudáveis. As crianças, futuros cidadãos da sociedade em construção, tornaram-se a principal preocupação dos higienistas. As mães como responsáveis diretas no seu cuidado e formação passaram a ser o alvo das políticas públicas de saúde que tem na imprensa uma grande aliada na propagação de valores e conhecimento junto às classes urbanas mais elevadas. Cynthia Greive Veiga afirma que no século XIX desenvolveu-se uma cultura escrita como parte de um projeto de nação em curso que “pretendeu legitimar a nação como local de pertencimento social, envolvendo sujeitos (cidadãos), territórios e instituições” (VEIGA, 2007, p.39). Segundo ela, os discursos que estruturam a sociedade são componentes de representações de poder e pretendem dar visibilidade igualmente aos lugares de poder.  Consolida-se então, um discurso voltado para a gestão das populações, que nesse momento, constituía um problema de governo. Nesse discurso, prossegue a autora, “foi elaborada uma autoimagem de elite civilizada cujas estratégias de convencimento aos destinatários de sua escrita dependiam da eficácia como desqualificavam a população em geral, aquela ‘condenada’ a ser civilizada” (Ibidem, p.42). Nesse contexto, a formação da criança, via educação das mães, tornava-se um alvo privilegiado nas ações governamentais. Elabora-se um modelo de família, mas propriamente de mulher que deveria ser civilizada, dedicada ao lar e à educação dos filhos.

A criança, sobretudo na América Latina se configurou como um depositário de diversos ideários sejam eles políticos, ideológicos ou sociais, envolvida continuamente na tensão entre família e Estado. Para Sosenski e Albarrán, a criança emergiu da retórica do Estado como ponto de partida de um novo regime, sobretudo em momentos de revolução e mudança cultural. As autoras afirmam ainda, que em muitos momentos, a figura da criança-cidadã encarnou a utopia de uma sociedade futura (SOSENSKI; ALBARRÁN, 2013, p.16,17).

Maria Martha de Luna Freire em ‘Mulheres, Mães e Médicos’ relaciona a questão da maternidade com um projeto republicano de modernização e civilização do país, na qual pretendia-se construir uma nova nação brasileira baseada em ideais tidos como avançados. Apoiados no crescente número da mortalidade infantil, os higienistas decidiram combatê-la com medidas higienizadoras de assistência materno-infantil associado à educação das mulheres com vistas à formação física e moral dos filhos que representavam o futuro do país.  “Ser mãe não significaria apenas garantir filhos ao marido, mas cidadãos à pátria” (FREIRE, 2009, p.21).
O desenvolvimento de uma maternidade saudável segundo os preceitos médicos partia do consenso de que as mulheres, tanto das classes mais altas quanto das mais pobres não estavam preparadas para desempenhar os papéis de esposa, sobretudo a de mãe (FREIRE, 2009; CARULA, 2011).  A situação da mulher no Brasil não era adequada aos princípios higiênicos afirma Ana Paula Vosne Martins (2000), por este motivo os médicos insistiam na urgência de uma educação feminina. Educação essa que já desde os fins do XIX assumiu a função de reformadora moral de uma sociedade que ainda sofria os resquícios da escravidão, tornando-se estatuto de condição para o progresso social.  André Botelho (2002) aponta que o tema da reforma moral desviou o debate da formação do povo do âmbito dos determinismos naturalistas para o plano histórico-social.

A maternidade constitui-se um tema recorrente em alguns jornais dedicados ao público feminino que já nesse período era grande consumidor desse gênero. Eram as mulheres as grandes responsáveis pela educação da família. Cabiam a elas, as leitoras, salvaguardar o costume e a tradição familiar, afirma Martin Lyons (1999). Os jornais constituíam instrumentos de doutrinação, tendo em vista a inadequação da mulher em relação à criação dos filhos perante o parecer da classe médica. Era preciso educar as mães para construir a nação nos moldes civilizados. Como um “agente histórico que intervém nos processos e episódios, não mero ‘reflexo’”(BARBOSA; MOREL,2006, p.1), o jornal A Mãi de Família atuou como um instrumento no desenvolvimento de um modelo de mãe pautado e tutelado pela ciência médica, capaz de gerar e cuidar do dos futuros cidadãos de uma nação em construção. 

O jornal, constitui um importante ponto de partida para o entendimento do discurso higiênico voltado para a mulher.  A Mãi de Família: jornal scientífico, literário e ilustrado objetivava educar a mulher segundo os preceitos da ciência médica. Foi fundado no Rio de Janeiro e tinha como mote a “educação da infância e a higiene da família”. Carlos Costa, médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, foi seu fundador. Se identificava como especialista em moléstias das crianças e atendia regularmente em seu consultório na cidade. Era o médico quem assinava a única seção permanente no jornal, a “Palestra do Médico” e também a maioria dos artigos. O periódico também contava com a colaboração de outros médicos e utilizava traduções de textos e pareceres médicos. O A Mãi de Família inspirou-se no jornal francês La Jeune-Mère que possuía a mesma finalidade e era editado pelo também médico André Théodore Brochard. Possuía tiragens quinzenais e suas principais seções eram além da “Palestra do Médico”, a “Moléstia das Crianças”, “Farmácia Doméstica”, “Variedade”, “Máximas e Pensamentos”, “Revista dos Jornais Científicos”, “Máximas e Pensamentos”. Além da Corte, o jornal também circulou em São Paulo e Minas Gerais. A publicação ainda contava com figurinos coloridos e seu preço podia variar de 6$000 a 10$000, e contava apenas com homens em sua redação. A edição número 9 nos oferece uma prévia do que seria tratado nas suas páginas:
“A nova publicação que oferecemos às mães brasileiras tem seu fim idêntico ao do jornal do Dr Brochard que tanta aceitação tem tido em França (...) preenche importante lacuna na educação da mulher, (...) achar-se-ão ordenados todos os conselhos ditados pela experiência e pela ciência” (A Mãi de Família, ano 1, n.9, jan.1879, p.7) .
Seus objetivos eram os mesmos do francês La Jeune-Mère produzido pelo Dr. Brochard: Orientar as mulheres como se comportar e os conhecimentos que deveriam possuir em sua tarefa como mãe, pois segundo o seu parecer as mães não sabiam como criar os filhos devidamente. De acordo com o periódico:
” As mulheres em nosso país não cumprem tanto quanto deveriam os sagrados deveres de mãe (...). Umas por vaidade, outras por pobreza e finalmente outras por desculpada ignorância não cumprem a sua missão sublime, a única que lhes foi confiada” (A Mãi de Família, anno 1, n.9, jan.1879, p.2).
Nesse contexto, a figura do médico higienista assume um papel capital, não apenas como aquele que cuida do corpo, mas, como um educador, exercendo seu poder de influência sobre outros setores da sociedade, respaldados num discurso médico científico que conferiria confiabilidade aos seus preceitos (CARULA, 2011).

O doutor Carlos Costa ressaltava que um país tão novo e tão adiantado materialmente como o Brasil estava envolvido numa caminhada evolutiva de decadência física dos homens na qual esses estariam também quase aniquilados na sua moral. A razão apontada por ele para esse mal seria: “(...) o mal de onde vem? Desde o berço, minhas senhoras. É esquecida, abandonada ou melhor ignorada a maneira de formar-se o homem, não cuidando-se seriamente da criança” (A Mãi de Família, anno 1, n.1, jan.1879, p.2). A Medicina seria então a tutora nesse processo educativo que tinha na mulher a sua principal discípula. A fim de” desenvolver o país era fundamental que se educasse primeiramente a mãe, pois ao educar sua prole ela promoveria a formação do cidadão que faria o país progredir (...)” (CARULA, 2011, p.10).

Segundo Sonia Giacomini, a centralidade aparente da criança no discurso de A Mãi De Família não é senão mecanismo explicitação dos deveres de mãe, mas que só poderia ser realizado dentro de um lócus onde é possível realizar a maternidade: a família. Para a autora, “ser mãe de família aparece enquanto condição de ser mãe, assim como ser mãe é a condição e a natureza de ser mulher” (GIACOMINI, 1985, p.88). A má criação dos filhos era o grande problema nacional e que comprometeria todo o futuro da nação, caso não fosse solucionado. A criança representava, portanto, uma preocupação, mas, também o vislumbre de um futuro próspero. 
Num momento histórico em que a construção da nacionalidade começava a despontar, os periódicos constituíram uma importante ferramenta para a difusão do ideário nacionalista.  Tania Maria Bessone Ferreira (2007) destaca o caráter “civilizador” da imprensa e aponta que a partir dos meados do século XIX se configuraria o estabelecimento de uma imprensa periódica de opinião com a divulgação de conceitos que tinham objetivos políticos e pedagógicos. De acordo com esse modelo, os jornais destinados ao público feminino em especial, apresentavam colunas que continham regras de conduta maternal e recomendações acerca da criança com o objetivo de assegurar-lhe a sobrevivência biológica, temas tão frequentes neste gênero literário. Esses funcionaram como um veículo de transmissão dos saberes médicos que aliados ao poder público e como instrumentos desse, tinham na função maternal uma preocupação de ordem nacional.
A construção de uma maternidade saudável segundo os princípios da higiene constituía o ponto de partida para a formação de uma nação moderna. “Ensinar a mães a serem mães” cuidando de forma científica de seus filhos, garantindo indivíduos saudáveis à nação era a chave que abriria as portas para o tão sonhado progresso.
O A Mãi de Família havia sido fundado com objetivos claros, sob o tripé nação, ciência e família, elementos constituintes do progresso de uma nação (VEIGA, 2007). Sua função principal era pedagógica, sendo o seu objeto de intervenção, a mulher. Através da construção de um modelo feminino, que tinha na mãe seu grau mais sublime, edificou-se um ideário que assegurava a criação de uma infância saudável física e moralmente, consolidando assim um projeto de nação que se pretendia civilizada.


REFERÊNCIAS
Cássia Regina da S. Rodrigues de Souza é mestre em História da Ciências e da Saúde pela COC/FIOCRUZ.

A Mãi de Família. Jornal Scientífico, Litterário e Illustrado-Educação da Infância e Higiene da Família, Anos 1879-1889. Disponível em: http://www.bndigital.bn.br;
ÀRIES, Philippe. História social da infância e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1985;
BOTELHO, André. Aprendizado do Brasil: a nação em busca de seus portadores sociais. Campinas: Editora da Unicamp, 2002;
BUCHAN, William. Medicina doméstica. Tomo I. Madrid: Imprensa Real, 1785;
CARULA, Karoline. Carlos Costa e a Mãi de Família. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História- ANPUH. São Paulo, julho, 2011 in http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300803313_ARQUIVO_karolinecarulaANPUH2011.pdf;
________. Perigosas Amas de Leite: aleitamento materno, ciência e escravidão em A Mãi de Família. História, Ciências, Saúde- Manguinhos. v.19, supl., Rio de Janeiro, dez.2012, pp.197-214;
D’INCAO, Maria Ângela. Mulher e família burguesa. In PRIORE, Mary Del(org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2008.
ENGEL, Magali. Psiquiatria e feminilidade. in PRIORE, Mary Del. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2008;
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Editora Graal, 1979;
FERREIRA, Tania Maria Tavares Bessone da Cruz. Os livros na imprensa: as resenhas e a divulgação do conhecimento no Brasil na segunda metade do século XIX. in CARVALHO, José Murilo de (org.). Nação e cidadania no império: Novos Horizontes. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007;
FREIRE, Maria Martha de Luna. Mulheres, mães e médicos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009;
GIACOMINI, Sonia Maria. A conversão da mulher em mãe: uma leitura do “A Mãi de Família”. Revista Brasileira de Estudos da População. v.2, Campinas, jul/dez, 1985, pp.71-98;
LAVRIN, Asuncíon. La niñez em México e hispanoamérica: rutas de exploración. in La famíllia en el Mundo iberoamricano. Pilar Gonzalbo Aizpuru y Cecilia Rabell (comps). México: Instituto de Investigaciones Sociales UNAM, 1994.
LYONS, Martyn. Os novos leitores do século XIX: mulheres, crianças, operários. in CHARTIER, R.; CARVALHO, G. História da leitura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, 1999; 
MARTINS, Ana Paula Vosne. A Medicina da Mulher: visões do corpo feminino na constituição da obstetrícia e da ginecologia no século XIX. Tese de Doutorado. UNICAMP. São Paulo, 2000;
_________, Ana Paula Vosne. Visões do feminino: a medicina da mulher no século XIX e XX.  Rio de janeiro: Editora Fiocruz, 2004. Disponível em: http://books.scielo.org;
_________, Ana Paula Vosne. Vamos criar seu filho: os médicos puericultores e a pedagogia materna no século XX. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.15, n.1, Rio de Janeiro, jan-mar, 2008, pp.135-134;
MOREL, Marcos; BARBOSA, Marialva.  História da imprensa no Brasil: Metodologia. Rede Alfredo de Carvalho. Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, 2006. in http://www2.metodista.br/unesco/redealcar_inventario.htm acesso em 25/05/18;
PERROT, Michelle. Os excluídos da história: mulheres, operários e prisioneiros.  São Paulo: Editora Paz e Terra, 1988;
PITA, João Rui. Práticas científicas à volta de 1900: Química, microbiologia e saúde pública em Portugal. in PEREIRA, Ana Leonor; DOMINGUES, Heloísa B.; PITA, João Rui; SALAVERRY, Oswaldo(orgs.) A Natureza, as suas histórias e seus caminhos.Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006;
SHORTER, Edward. A formação da família moderna. Coleção Pequena História. Lisboa: Terramar, 1975;
SOSENSKI, Susana; AlBARRÁN, Elena Jackson. Introducción. In Nuevas miradas a la história de la infância en América Latina. Entre prácticas y representaciones. México: Instituto de Investigaciones Históricas, 2013
VEIGA, Cynthia Greive. Cultura escrita e educação: representações da criança e imaginário da infância- Brasil, século XIX. In Lopes, A. (Org). Para a compreensão histórica da infância. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.


16 comentários:

  1. Olá Cássia,
    sua pesquisa é muito interessante. Ela dialoga com a história da infância e das mulheres, tendo em vista que muitas de suas observações apontam como os diferentes processos que reforçaram as distinções de gênero e a naturalização da maternidade agiram diretamente sobre a infância. Tendo em vista que trata de um impresso de fins do XIX e parte da realidade da época, onde poucas mulheres eram alfabetizadas, você apontou da necessidade de não distinguir a "boa mãe", sendo que ela deveria ser pobre ou rica. Contudo, diante das diferenças sociais existentes, você percebeu alguma diferenças nos enunciados em relação a ricas ou pobres, por exemplo? Você pode comentar um pouco sobre isso? Att Jorge
    jorgezaluski@hotmail.com

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    1. Olá Jorge, obrigada pelo seu comentário.Primeiramente, devemos tomar como ponto de partida para nossa reflexão, o grande índice de analfabetismo existente naquele momento, principalmente entre o público feminino.Logo, as leitoras que tinham acesso à essas publicações eram portanto, pertencentes às camadas mais altas da população. Tais publicações eram direcionadas a essa categoria inicialmente, e por meio dessa mulher letrada, devidamente educada segundo os princípios da ciência médica , as demais camadas da população seriam alcançadas.

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    2. Olá Cássia,
      obrigado pelo retorno. Sim, essas produções tiveram um publico muito restrito, foi apenas na década de 1950 que esses livros tornaram-se populares e circularam em outros grupos sociais. Outro ponto que me despertou atenção foi em relação aos conteúdos. Em minha pesquisa de doutorado, sobre a educação no Paraná (1971-1984), identifiquei que a diretriz curricular do estado recomendou a coleção para as Moças e os romances de M. Delly, algo muito próximo dos materiais pesquisados por você. O uso desse tipo de literatura na escola, é uma forma de legitimar as desigualdades de gênero enunciadas e reforçadas nas histórias. Parabéns pela pesquisa. ótimo evento!
      Jorge Zaluski
      jorgezaluski@hotmail.com

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  2. Cássia, primeiro parabéns pelo texto claro e objetivo, sentindo falta apenas de uma contextualização do período em que o jornal foi publicado.
    Ficou-me claro que o jornal estava direcionado às mulheres letradas da classe mais abastada.
    Porém ele foi publicado no período pós Lei do Ventre Livre(1871),que dizia que o filho da escrava deveria ficar em poder dos senhores de sua mãe, que teriam a obrigação de criá-lo até 8 ano de idade. Nesse sentido fiquei pensando se os assuntos abordados no periódico, que segundo uma das suas fontes, circulou também para fora da corte, "atingindo também os “remotos lugares” do país" (fazendas, talvez), tinham como função auxiliar/ensinar as senhoras de escravas, também na criação e educação dos "ingênuos". Isso, de alguma forma aparece no jornal?

    Abraço
    Eliane de Mesquita Sabino dos Reis

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    1. Obrigada Eliane pelo seu comentário. Realmente o debate pode ser aprimorado contextualizando melhor o período conforme você indicou. No jornal, até onde pesquisei, não pude verificar isso de forma clara, porém, é sabido que a literatura médica, principalmente os manuais de Medicina doméstica tinham entre os seus objetivos elucidar os princípios científicos entre a população, para tanto, as mães de família, entre elas a senhoras que muitas vezes auxiliavam nos partos das escravas, estavam entre as suas principais destinatárias.
      Espero ter respondido seu questionamento.
      Um abraço,

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  3. Olá Cássia.

    Por certo que o projeto republicano de modernização, civilização e higienização do país tomaria a mulher - enquanto naturalmente responsável pelos cuidados do lar e dos filhos no pensamento da época - como peça chave nesse processo. Contudo, é certo também que, o acesso a informação e a compreensão dessa informação só seria possível às mulheres cultas e instruídas. Não obstante, pensando ainda em uma linguagem mais informal que atingiria as camadas mais populares da sociedade, a investida ainda esbarraria em outro fator importante de se considerar; a aceitação dessas mães das camadas mais populares em seguir as orientações médicas, haja vista o receio que tinham com relação as intenções dos higienistas e do poder público de maneira geral.
    Mas, para além dessas questões; ao desenvolver sua pesquisa, você chegou a constatar que mesmo as crianças de família mais abastadas eram tratadas como seres insignificantes até então?

    Abraço,

    Danila Gomes Corrêa.




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    1. Sim, Danila. Apesar das revisões mais recentes, a historiografia nos atesta isso. William Buchan autor de um importante manual de medicina doméstica do século XVIII citado em meu texto, nos fornece um fragmento desse pensamento. Segundo ele, muitas famílias acreditavam que os grandes esforços empregados na conservação da vida de uma criança eram dispensáveis pois, esses seres tão frágeis logo iriam sucumbir diante de alguma enfermidade. De fato, começamos a perceber uma mudança nesse pensamento a partir da segunda metade do século XIX associado a um projeto higienista, onde a criança tutelada por uma mãe “higiênica” torna-se o um dos principais pontos desse projeto.
      Obrigada por seu comentário!

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    2. Olá Cássia.

      Pesquisar é realmente incrível não é? Quanta história ainda há por ser "descoberta" em diversas situações do processo histórico.

      Obrigada por seu retorno, abraços!

      Danila Gomes Corrêa.

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  4. Olá Cássia, bom dia! Muitíssimo interessante sua pesquisa, o projeto higienista no contexto da criança e da mulher, ao seu ver, atingiu seus objetivos para a nação? Ou foi mais uma forma de distinguir os espaços, os lugares de escuta e de fala dentro de uma sociedade patriarcal?

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    1. Olá Elaine. O segundo questionamento é o mais correto. O corpo feminino sempre foi cerceado por discursos que tinham o objetivo de conduzi-lo a fim de formar uma mulher-mãe devidamente educada segundo os princípios higiênicos. Certamente, esses discursos objetivavam estabelecer os espaços, deixando claro qual o papel da mulher dentro dessa sociedade.

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  5. "Ser mãe não significaria apenas garantir filhos ao marido, mas cidadãos à pátria" (FREIRE, 2009, p.21). Observando essa afirmação, vemos que a mulher foi educada tanto para ser mãe como para ser a mãe educadora dos filhos para a construção da pátria civilizada. Sabemos nos dias atuais, que muitos foram os avanços em relação aos direitos das crianças, mas ainda temos graves problemas no cumprimento desses direitos. De forma legal, é dever de toda a sociedade zelar pela proteção e bem estar da criança, contudo, o estigma da mãe cuidadora e educadora é tão forte que o cuidado (em todos os aspectos) da criança é apenas da mãe. Uma criança sem "mãe" ou com uma "mãe descuidada" é algo que marca intensamente a vida de uma criança, pois ela passa a ocupar o lugar das crianças mal educadas. Você acredita que colhemos e colheremos ainda mais os frutos dessa educação somente maternal que temos na sociedade brasileira?

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    1. Sim, sem dúvida colhemos os frutos de discursos de uma educação unilateral. Creio que isto não chega ser um erro (pois verificamos sociedade que a educação infantil é delegada somente a mulher) porém, em nosso caso, percebemos lacunas dessa educação deficiente. Obrigada por suas perguntas!

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  6. Parabéns pelo seu texto. Nele você menciona que os jornais, periódicos femininos, foram muito utilizados pra disseminar essa teria higienista, principalmente através de textos relacionados a ciência médica. Você fala,rapidamente, sobre a questão da propaganda e, em uma resposta anterior você diz que estes periódicos começaram a ganhar mais circulação pela década de 1950. Gostaria de saber se você pretende expandir a sua pesquisa para a área de como nos conteúdos do periódicos podiam ser encontradas as propagandas, para além dos textos que você já exemplificou.

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    1. Inicialmente não. Esse texto é um desdobramento de minha dissertação de mestrado onde eu trabalho com a literatura médica, sobretudo os manuais de Medicina doméstica. Os periódicos, nessa pesquisa, serviram somente de suporte para minha análise. Mas, pretendo futuramente ampliar essa discursão abarcando os jornais voltados para o público feminino redigidos por mulheres e como a questão da educação das mães era vista por elas próprias. Obrigada por seu comentário Milena!

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  7. Olá, muito interessante seu texto. Você menciona a posição médica em relação ao corpo das mulheres e em um tempo tão marcado pela religiosidade, você vê alguma relação entre os dois para a construção da figura feminina?
    Ana Clara Alves Leite

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    1. Sim, Ana Clara, sem dúvida. A historiografia das mulheres atesta que visão a respeito do corpo feminino esteve sempre orientada pelo discurso religioso,sobretudo na Idade Média. Mas tarde porém, esse viés recebeu contornos científicos, recebendo ares de legitimidade, isso perdurou por pelo menos até metade do século XX. Obrigada por sua pergunta e espero ter respondido sua dúvida.

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