Andreia Costa Souza


ENSINO DE HISTÓRIA E MULHERES NEGRAS: UMA PERSPECTIVA INTERSECCIONAL SOBRE AS PERCEPÇÕES DE ESTUDANTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA


O presente texto objetiva expor as considerações iniciais de uma pesquisa que trata das vivências e identidades de estudantes negras quanto às manifestações articuladas do racismo e do sexismo, através de reflexões inseridas no Ensino de História. Buscando partir da perspectiva da interseccionalidade entre questões de raça e gênero, o foco das análises estará nas desigualdades vividas pelas mulheres negras nos dias atuais. Kimberlé Crenshaw (2002, 2012), propõe a interseccionalidade como uma perspectiva analítica, que através da integração dos diversos eixos ou marcadores da diferença – sexo/gênero, raça, etnicidade, classe, orientação sexual, idade, etc. – seria uma ferramenta eficiente não apenas para identificar os sistemas de opressão, mas também para compreender como estes articulam-se e reproduzem-se nas interações sociais.
A pesquisa vem sendo realizada entre alunos/as de uma turma de oitavo ano da Escola pública municipal Maria Aparecida Rosa, localizada no município de Conceição do Araguaia (PA). Através de reflexões sobre a equidade racial e de gênero e o protagonismo de personagens historicamente silenciadas pela produção historiográfica e ensino de história tradicionais, os/as estudantes serão instigados a desenvolver relatos e visões críticas sobre os temas abordados. Pretende-se que os participantes da pesquisa desenvolvam o entendimento de que estas mesmas desigualdades foram construídas historicamente, através de narrativas excludentes e eurocêntricas replicadas através do Ensino de História.

Os princípios teóricos e metodológicos da pesquisa têm como propósito dar visibilidade e espaço para as narrativas dos/as estudantes negros/as, através da pesquisa-ação, e de modo particular, através da técnica de grupos focais, considerar as falas das meninas negras da turma. No decorrer das oficinas, os/as discentes serão incentivados/as a elaborar uma percepção crítica das raízes históricas e políticas do racismo e do sexismo, suas formas de manutenção e reinvenção nas relações de poder. Diante dos preconceitos, das ideias intolerantes e violentas materializadas nos eventos da atualidade, o intuito é promover conscientização e novas posturas através do Ensino de História.

As ações pedagógicas propostas serão pensadas com o intuito de “inverter” os mecanismos que fundamentam a abordagem tradicional do ensino de história, que ainda hoje apresenta heranças das narrativas eurocêntricas, centradas na figura do homem branco e colonizador. Diante deste quadro hegemônico ainda presente nos currículos, livros didáticos e narrativas sacralizadas do ensino de história, a perspectiva teórica adotada nesta pesquisa, assim como as estratégias pedagógicas e metodológicas serão direcionadas em busca das possibilidades de valorização da identidade negra feminina.

De tal maneira, é possível definir alguns dos problemas de pesquisa que se buscará investigar e responder: como criar estratégias e caminhos que permitam subverter e diversificar os lugares de fala e a perspectiva tradicional do ensino de história? Como atuam as desigualdades múltiplas de gênero e raça nas vivências das mulheres negras? Como promover o reconhecimento das mulheres no Ensino de História, particularmente das mulheres negras, historicamente apagadas e silenciadas pelas narrativas eurocêntricas?

A coleção de livro didático adotada há quatro anos pelos/as professores/as e gestão escolar, aborda a temática racial de modo peculiar no volume do oitavo ano do Ensino Fundamental, através do primeiro capítulo do livro, intitulado Africanos no Brasil: dominação e resistência. Contudo, as discussões se mostram insuficientes diante da complexidade das manifestações do racismo que estrutura as relações cotidianas, o que gera situações de conflito recorrentes. Os recursos didáticos disponíveis ainda apresentam os personagens negros e femininos de modo pontual e figurativo, as formações destinadas aos docentes não abordam tais temáticas, vistas por alguns como menos relevantes ou “polêmicas” demais para o ambiente escolar. 

Através de uma pesquisa prévia com a turma escolhida para a aplicação do projeto, observei algumas peculiaridades. Em um total de 31 alunos/as, 20 meninos e 11 meninas, elas narraram mais situações de discriminação racial no questionário aplicado. Do total de meninas (11), 3 autodeclaram-se “pardas”, 6 autodeclaram-se “pretas” e apenas 2 autodeclaram-se “brancas”. Do total de meninos (20), 12 autodeclaram-se “pardos”, 6 autodeclaram-se “pretos” e apenas 2 autodeclaram-se “brancos”.

Quando questionados/as sobre o papel da escola no “combate ao racismo”, boa parte manifestou a opinião de que os “racistas devem ir pra secretaria e serem expulsos” da escola. Em uma das respostas, uma observação interessante de uma das meninas da turma: “conversas com os alunos e ficar de olho porque o racismo acontece em todo lugar”. Contudo, percebi que para a maioria deles/as, o racismo se manifesta necessariamente com atitudes e falas agressivas, que envolvam xingamentos e apelidos ofensivos. Alguns/as, que se autodeclaram pardos/as ou pretos/as afirmam nunca terem vivenciado uma situação de discriminação racial.

Contudo, tanto nas conversas em sala quanto nos questionários, os relatos das meninas apresentaram mais detalhes, indignação e tristeza diante de situações de discriminação racial já vividas. Uma aluna relatou que: “um dia eu ia passando na rua e uns garoto começaram me tacar bola de papel e dizer que eu não devia tá na terra porque eu era um urubu, sai da frente carvão. E eu chorei muito”. Em outro questionário: “já fizeram piadas da minha cor eles me chamavam de nega do cabelo duro, de neguinha eu chorava e chegava em casa triste e minha mãe falava (...) vc tem que ter orgulho da sua cor vc é linda minha princesa...”.

A pesquisa prévia feita na turma possibilitou uma visão mais ampla dos problemas a serem levantados, uma noção de como racismo e sexismo estão implícita, ou explicitamente, presentes nos relatos de alunos e alunas, e como estes temas poderão ser abordados e problematizados através do Ensino de História.

A filósofa Sueli Carneiro (2011, p.17) aponta que, além do mito da democracia racial, que “se presta historicamente a ocultar as desigualdades raciais”, diferentes formas de interpretação da questão racial também são utilizadas na negação do racismo.  De acordo com a filósofa, “existem ainda visões que consideram a questão racial como reminiscência da escravidão, fadada ao desaparecimento, tanto mais se distancie no tempo daquela experiência histórica, ou como subproduto de contradições sociais maiores” (CARNEIRO, 2011, p.16). No momento político em que nos encontramos, essas visões tem ganhado adeptos em diferentes espaços.

O lócus da pesquisa será a ser realizada com uma turma de oitavo ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Maria Aparecida Rosa, situada no município de Conceição do Araguaia (PA). A cidade está situada na região Sul do Estado do Pará e faz divisa com o Estado do Tocantins, marcada pela imigração de goianos, tocantinenses e nordestinos. Dentre as escolas municipais, a Escola Maria Aparecida Rosa é a maior, com mais de 800 alunos/as matriculados/as no ano de 2018.

Os procedimentos básicos da metodologia e as técnicas para a produção de dados, tomados de acordo com Barbier (2007) e Gatti (2005), serão: observação participante no campo de pesquisa (escola e sala de aula), através da pesquisa-ação; aplicação de questionário com perguntas abertas em torno da temática racial; gravação de entrevistas em grupos focais, direcionados pela pesquisadora com roteiro de perguntas focadas na temática racial; proposição de atividades educativas que gerem relatos escritos e debates.

Interseccionalidade e feminismo negro

Na pesquisa bibliográfica, observa-se que alguns dos principais trabalhos que apropriam-se do conceito de interseccionalidade ou do uso das categorias raça e gênero pensadas simultaneamente, não referiam-se no Ensino de História ou mesmo no campo historiográfico. São produções recentes das mais diversas áreas do conhecimento, o que atribui ao conceito de interseccionalidade uma abordagem diversificada e interdisciplinar. Contudo, foi observada uma lacuna bibliográfica relativa ao enfoque proposto por esta pesquisa: o Ensino de História e as intersecções entre as identidades raciais e de gênero.

A jurista afro-estadunidense Kimberlé Crenshaw propôs o conceito de interseccionalidade em fins da década de 80, mas a partir da produção de um documento que integra o Dossiê da III Conferência Mundial contra o Racismo (Durban, 2001), o conceito popularizou-se no meio acadêmico, o que também tem levado a sua distorção e esvaziamento (AKOTIRENE, 2018).

A reflexão de Crenshaw (2012) parte de sua preocupação com as leis anti-discriminação e com políticas públicas voltadas à solução das discriminações de gênero e raça.  Ao perceber o modo como os movimentos feminista, hegemonicamente branco, e o movimento negro, hegemonicamente masculino, invisibilizava as mulheres negras, a jurista afro-estadunidense, assim como feministas negras brasileiras, desde fins da década de 70, alertam para a necessidade de atenção às duplas ou triplas discriminações.  Crenshaw (2012, p. 9-10) explica a questão ao confrontar uma perspectiva hegemônica recorrente:

“A visão tradicional afirma: a discriminação de gênero diz respeito às mulheres e a racial diz respeito à raça e à etnicidade. Assim como a discriminação de classe diz respeito apenas a pessoas pobres. Há também outras categorias de discriminação: em função de uma deficiência, da idade, etc. A interseccionalidade sugere que, na verdade, nem sempre lidamos com grupos distintos de pessoas e sim com grupos sobrepostos”.
Com esta compreensão da perspectiva interseccional como uma lente analítica e sensível atenta ao cruzamento de estruturas de dominação e opressão, a pesquisa foi pensada e conduzida teórica e metodologicamente pela busca de um olhar interseccional capaz de melhor decodificar as construções identitárias das estudantes entrevistadas, assim como considerar as contribuições desta abordagem para a formação proposta. O cruzamento das categorias gênero e raça foram, inicialmente, as bases para a formulação dos questionários de pesquisa e das observações. A partir da produção dos dados no decorrer da formação, assim como no diálogo com as entrevistadas – como era imaginado – e na própria sala de aula, outros eixos de diferenciação surgiram.  Ao refletir sobre o proposto nas legislações vigentes sobre o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, sobre os trabalhos já produzidos no âmbito do Ensino de História, considero que há uma lacuna que demanda complexificar as abordagens. Crenshaw (2012, p. 15) sugere que “precisamos reconfigurar nossas práticas que contribuem para a invisibilidade interseccional”. Aponta que é preciso pensar medidas e métodos que desestabilize “a tendência de pensarmos sobre raça e gênero como problemas mutuamente exclusivos. Precisamos adotar uma abordagem de baixo para cima na nossa coleta de informações. Parar de pensar em termos de categorias, em termos de gênero e raça, de cima para baixo” (CRENSHAW, 2012, p. 16).

São inúmeros os desafios para se construir essa “abordagem de baixo para cima” em uma pesquisa no campo do Ensino de História. As narrativas escolares e historiográficas tradicionais que insistem em perdurar e se renovar nos materiais didáticos e no imaginário escolar, a quantidade de estudantes em uma só turma, o vício aprendido com o colonizador em universalizar/generalizar e não particularizar sujeitos, em “separar por caixinhas” o pensamento como se esse caminho fosse sempre a garantia da aprendizagem, de uma didática aprimorada. Tudo isso em um contexto de crescente desconfiança e vigilância sobre as/os professoras/es, particularmente os de História. Muitos destes fizeram parte da trajetória da formação proposta na pesquisa, tanto dos/as estudantes como da minha própria formação como professora-pesquisadora.

No artigo Gênero, currículo e pedagogia decolonial: anotações para pensarmos as mulheres no ensino de História, Larissa Costard (2017, p.159) propõe repensar o currículo, tido como narrativa que simboliza determinada concepção histórica, além de “questionar que histórias e que mulheres estão presentes na construção do saber histórico escolar, e especialmente que aportes podemos mobilizar para pensar currículos que rompam com uma história única das mulheres”.

Em seu artigo, Atualidade do Conceito de Interseccionalidade para a pesquisa e prática feminista no Brasil, apresentado no Congresso Internacional Fazendo Gênero 10, Rodrigues (2013) traça um paralelo das concepções teóricas entre os movimentos de mulheres negras no contexto saxão e no Brasil. Aponta que, em nosso país, o conceito de interseccionalidade havia sido pouco discutido pela militância e academia. Rodrigues (2013, p. 2) aponta que tanto o movimento feminista e o movimento negro brasileiros, “acabaram produzindo formas de opressão internas, na medida em que silenciaram diante de formas de opressão que articulassem racismo e sexismo (...)”.

No artigo citado acima, Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Edna Roland, Luiza Bairros, Jurema Werneck, são algumas das mulheres negras lembradas como referências teóricas para o feminismo negro, permitindo que a cena política pensasse a condição das mulheres atrelada ao pertencimento racial, o que foi relevante nas primeiras iniciativas organizadas de combate às discriminações e apagamento impostos às mulheres negras historicamente. 

De acordo com a filósofa Djamila Ribeiro (2015), em artigo publicado na página do Instituto da Mulher Negra – Geledés, A perspectiva do feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas, o conceito da interseccionalidade “vem sendo desenvolvido por mulheres negras ativistas há mais de um século e recebeu maior atenção quando a crítica e teórica estadunidense Kimberlé Crenshawo utilizou como centro de uma tese, em 1989, para analisar como raça, gênero e classe se interseccionam e geram diferentes formas de opressão”.

O levantamento bibliográfico desta pesquisa permitiu identificar uma lacuna no campo do Ensino de História, visto que raros estudos abordam, concomitantemente, as categorias de raça e gênero inseridas no Ensino de História, suas intersecções na expressão das identidades e relações sociais.  

Considerações finais

O objeto de estudo da pesquisa encontra-se inserido em um cenário marcado por “esquecimentos” e apagamentos produzidos pela historiografia brasileira – centrada até poucas décadas atrás na perspectiva eurocêntrica e colonial. De tal forma, é preciso atentar-se ao modo como o Ensino de História tem tratado, ou mesmo silenciado, as múltiplas formas de discriminação racial e de gênero, assim como repensado as matrizes epistemológicas que constituíram a disciplina.

O ensino de história, assim como a produção do conhecimento histórico, nas últimas décadas tem passado por uma profunda revisão, marcada pela disputa política e ideológica entre diversos campos do saber e atores sociais. Os métodos, o currículo, a representação da diversidade reivindicada pelos movimentos sociais tem definido temáticas e problemas constantemente revisitados. Um dos desafios seria proporcionar uma aprendizagem “considerada pelos jovens como significativa em termos pessoais, de modo a lhes proporcionar uma compreensão mais profunda da vida humana” (SCHMIDT et. al, 2011, p. 11).

As reivindicações históricas do movimento negro caminham neste sentido, visando a concretização de um aprendizado significativo para a população afrodescendente do Brasil, que promova representação e consciência racial. A Lei n° 10.639/03, de 9 de janeiro de 2003, que complementa a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (n° 9.394/96) instituiu no currículo oficial da Rede Pública de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.

No contexto escolar, observa-se um tratamento superficial dado às temáticas raciais, ao próprio debate sobre o racismo ou sobre a condição da mulher, especialmente a mulher negra. De tal forma, reflexões sobre a atuação da ideologia racial descrita acima se apresenta como uma das finalidades deste estudo, além de endossar a “extrema, inegável e absoluta importância que a educação contemple no currículo, nos projetos, nos rituais e no material escolar a diversidade da qual é composta a sociedade brasileira, e que o faça de maneira crítica” (PEREIRA, 2010, p. 14).

Contudo, a “aplicação” das demandas raciais, tanto na esfera estatal quanto na dos movimentos sociais, tem colocado educadores/as, militantes e acadêmicos diante de um debate mais profundo, que envolve a possibilidade de construção de novos caminhos epistemológicos, da validação e do reconhecimento de saberes não-sacralizados. De acordo com Oliveira & Candau (2010, p.37), é preciso levantar questões capazes de operar mudanças de paradigmas:

“Outro aspecto que pôde ser evidenciado é o fato de pôr em discussão, nos sistemas de ensino e no espaço acadêmico, a questão do racismo epistêmico, ou seja, a operação teórica que privilegiou a afirmação dos conhecimentos produzidos pelo ocidente como os únicos legítimos e com capacidade de acesso à universalidade e à verdade”.
É possível à uma nova proposta teórico-metodológica, evidenciar e expor o racismo como componente estrutural da sociedade brasileira, presente nas relações e práticas sociais, no imaginário, na linguagem, na subjetividade dos/as personagens históricos marcados pelas heranças violentas do período colonial.

As mulheres e meninas negras, ao encabeçar o topo dos indicadores de desigualdade de gênero, vulneráveis a formas de agressão simbólica e física, encontram-se numa evidente condição de desumanização e subalternidade. Cabe indagar como essas violências tem sido pautadas no ensino de história, desconstruídas ou mantidas, desnaturalizadas ou naturalizadas. A história ensinada tem abordado ou silenciado as mulheres negras?

Este “ponto de partida” adotado busca não perder de vista a abordagem da temática de forma não estanque à atualidade do país e à materialidade das experiências vividas pelas adolescentes/alunas negras cotidianamente. Acredita-se, que esta pesquisa poderá proporcionar contribuições e subsídios consistentes à efetivação do proposto na lei 10.639/03, assim como nas demais legislações sobre educação etnicorracial.

O cenário apresentado, em um contexto de violência, ódio e desrespeito aos direitos das mulheres e meninas negras em nosso país, o objeto desta pesquisa fundamenta-se, primordialmente, na tentativa de desestabilizar práticas arraigadas que promovem o apagamento de sujeitos e injustiças sociais. Entende-se que o papel do ensino de história encontra-se, também, nesta tarefa de desconstrução.

A despeito dos avanços democráticos observados nas últimas décadas, inseridos no processo de redemocratização e na Constituição de 1988, da atuação dos movimentos negros e feministas, da legislação educacional vigente, observa-se uma conjuntura no país que reifica a violência racista e coloca as mulheres negras nos topo dos índices de desigualdade social. 

Diante do que foi exposto em termos de relevância, viabilidade e pertinência da pesquisa, entende-se que novas abordagens no Ensino de História, capazes de contribuir para uma educação antirracista e antissexista, serão construídas na medida em que a voz das mulheres e meninas negras sejam tomadas como ponto de partida para a elaboração de uma nova perspectiva pedagógica, mais inclusiva e igualitária.


REFERÊNCIAS
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Profissional em Ensino de História da Universidade Federal do Tocantins (ProfHistória-UFT), CampusAraguaína. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Endereço eletrônico: andreiacostasouza@gmail.com Orientador: Prof. Drº Dernival Venâncio Ramos Junior.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei no 10.639. Brasília: 09 de janeiro de 2003.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer 3/2004 - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC, 2005.
BARBIER, R. A pesquisa-ação. Trad. Lucie Didio. Brasília: Liber Livro, 2007.
CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. Coleção Consciência em debate. São Paulo: Selo Negro, 2011.
CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o Encontro de Especialistas em Aspectos da Discriminação Racial Relativos ao Gênero. Estudos Feministas, Ano 10, 1º Semestre, p.171-189, 2002.
CRENSHAW, Kimberlé. A Interseccionalidade na Discriminação de Raça e Gênero. In Painel 1. 2012 - Cruzamento Raça e Classe -  Disponível em <http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wpcontent/uploads/2012/09/Kimberle-Crenshaw.pdf> Acessado em 05 de Abril de 2016.
GATTI, B. A. Grupo focal na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Brasília: Liber Editora, 2005.
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; CANDAU, Vera Maria Ferrão. Pedagogia decolonial e educação antirracista e intercultural no Brasil.Educ. rev., Belo Horizonte,  v. 26, n. 1, p. 15-40,  abr.  2010 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982010000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em  05  abr.  2018. 

PEREIRA, Rosa Vani. Aprendendo Valores Étnicos na Escola. Coleção Formação Humana na Escola. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2009.
RIBEIRO, Djamila. A perspectiva do feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas.Brasil - Categoria: Mulher e LGBT Publicado: 05 Agosto 2015. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/a-perspectiva-do-feminismo-negro-sobre-violencias-historicas-e-simbolicas/>. Acesso em: 10 maio 2018.
RODRIGUES, Cristiano. Atualidade do conceito de interseccionalidade para a pesquisa e prática feminista no Brasil, em SEMINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Centro de Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 16 a 20 de setembro de 2013. Anais. Disponível em: <http://www.fazendogenero.ufsc.br/10/resources/anais/20/1384446117_ARQUIVO_CristianoRodrigues.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2018.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; GARCI, Tânia B.. Significados do pensamento de Jörn Rüsen para investigações na área da educação histórica. In: BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão de R.; SCHMIDT, Maria A. (Orgs). Jörn Rüsen e o ensino de história. Curitiba: Ed. UFPR, 2011.


26 comentários:

  1. Olá Andreia,
    seu trabalho permite uma reflexão muito além da academia. O tema é de grande relevância social e contribui para a construção de uma sociedade mais igualitária. Seus apontamentos são muito interessantes, acredito que através do uso da interseccionalidade, seu texto permite fazer com que o/a leitor não acostumado com tema, possa compreender parte das relações sociais onde os diferentes grupos sobrepostos estão imersos a distintos marcadores. O relato da estudante deixa explicito a existência do racismo, onde o fato dela ser menina teve uma atitude diferenciada por parte dos agressores. E em relação ao resultado de seu trabalho, você realizou alguma ação na escola? Você pretende dar continuidade a essas investigações? Ótima semana de evento. Att Jorge

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    1. Olá Jorge!
      Perdão pela demora no retorno.
      Suas considerações são ótimas.
      Realizei uma formação com duração de quase três meses, com diversas oficinas sobre a temática racial e de gênero, entrevista com algumas meninas negras da turma. Enfim, foi e ainda tem sido um trabalho gratificante. As questões de classe e de território (local de moradia das meninas) emergiram na pesquisa de campo, o que possibilitou observar como o conceito de interseccionalidade é crucial para pensarmos as desigualdades fundadas em marcadores da diferença social.

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    2. Olá Andreia,
      problema nenhum, eu estava acompanhando rsrs
      Que trabalho excelente, ele é muito gratificante quando rompe com as limitações como restritas apenas a um saber cientifico e permite agir de forma direta na sociedade, isso é ótimo, e precisamos de muitas ações como essa. Concordo com suas colocações, tenho experiências próximas em sala, e a interseccionalidade é uma das possibilidades para melhor compreender e buscar soluções para os problemas. Mais uma vez, parabéns pelo trabalho. Att Jorge Zaluski

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    3. Muito grata, Jorge! É exatamente isso o que representa a interseccionalidade: uma ferramenta metodológica muito importante. Ass.: Andreia Costa Souza

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  2. Olá Andreia!
    O presente texto nos permite realizar uma profunda reflexão sobre como de fato tem sido ensinada a disciplina de "História" nos contextos escolares. E quando realizamos tal reflexão a partir da presente realidade, constatamos que os negros e especificamente a mulher tem ocupado um lugar à margem no que tange sua importância e história na sociedade. Propor e aplicar um um processo de ensino-aprendizagem a luz de novas temas e novas abordagens é sem sombra de dúvidas um ato desafiador, que devemos estar dispostos a fazê-lo. Imersos a uma sociedade impregnada de atitudes e visões feministas e racistas como romper com tais tendências e aplicar no cotidiano escolar novos temas e novas abordagens, visto que os livros de didáticos, que devem ser "seguidos" não nos permitem muita flexibilidade? Diante da investigação realizada, quais dicas de atividades e de novas abordagens você recomendaria? Att, Érika Cristina Flores Belo.

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    1. Olá Érika! Grata pelas contribuições.
      Sem dúvida os desafios são imensos aos professores de história quanto a essa temática. Eu optei por realizar oficinas simples, com debates sobre questões de gênero (desigualdades e representações de feminino e masculino), leitura de textos do Portal Geledés (que possui uma seção excelente chamada "Casos de racismo"), apresentação de mulheres negras inspiradoras, ênfase nas falas das meninas, etc.. Foi um trabalho muito gratificante!

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  3. Boa noite!!
    Achei seu trabalho incrível! Sou da área da psicologia, e estudo gênero e ontologia.
    Você já leu sobre feminismo decolonial? O Brasil está começando a produzir matérias incríveis sobre o tema! Creio que se encaixe muito no seu trabalho!
    Parabéns mais uma vez.
    Abraços,
    Camila de Barros Dutra.

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    1. Obrigada Camila!
      Sim! È exatamente esse a direção que o trabalho tem tomado. Tenho utilizado Maria Lugones, especialmente. E tenho observado também que o feminismo negro estabelece um diálogo com a descolonização e o movimento da decolonialidade que precisa ser aproveitado por todas/os nós.

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  4. Após o questionário realizado com os estudantes, foi feita alguma ação posteriormente?

    Joana Bleza Cunha Alves

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá Joana!
      Sim! Foi realizada uma formação para a história das relações etnicorraciais e de gênero. A pesquisa envolveu posteriormente diversas intervenções. Ass: Andreia Costa Souza

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  5. Seu trabalho é de suma importância e o que ele propõe é de caráter emergencial, visto o enfoque nas mulheres negras, que confere o grupo social mais violentado e silenciado de todos, pois faz irromper o que a filósofa feminista negra Angela Davis aponta: "quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela". Seguindo essa perspectiva, de que forma o/a professor/professora de História pode construir projetos escolares que tenham o objetivo de fomentar o processo de "empoderamento" dessas crianças/adolescentes negras de modo a aumentar seus campos de perspectiva e referências sobre elas mesmas enquanto sujeitos históricos?

    att, Louyse Sousa Silva

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    1. Olá Louyse!
      Grata pelas considerações!
      Acredito que o caminho a ser trilhado passa pelo desenvolvimento destas temáticas além livro didático. Há excelentes materiais disponíveis em sites, em forma de textos ou vídeos. Além de que ouvir as estudantes negras, observar como as relações de poder estruturam-se em pequeno lócus, como o da sala de aula, é fundamental para este propósito de uma educação antirracista e antissexista.

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  6. Olá Andreia!

    Inicialmente, parabéns pelo seu texto e tema, ambos são muito importantes e pertinentes para refletir o Ensino de História no Brasil.

    Gostaria de saber, a partir de suas pesquisas e estudos, como você acredita que é possível superar a ausência de discussões que contemplem a mulher negra sob uma perspectiva interseccional nas produções acadêmicas que versam sobre o Ensino de História.

    Atenciosamente,

    Ana Laura da Silva Castro

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá Ana Laura! Excelente pergunta.
      Dentro do Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História, encontrei pouquíssimos trabalhos que abordam a interseccionalidade. As primeiras iniciativas estão surgindo agora. Encontrei dois trabalhos, contudo, que são bastante inspiradores. Andreia Costa Souza

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  7. Boa Noite, Andreia!

    Gostaria de parabenizar pelo excelente trabalho, sabemos que tal tema é de suma importância para a sociedade brasileira e expõe algumas necessidades emergenciais na reflexão sobre a importância da valorização de identidade negra feminina. Com base no seu trabalho e demais pesquisas, quais são as maiores dificuldades em se trabalhar com a temática nas escolas? Como que o professor poderia trabalhar tais temáticas?


    Atenciosamente,

    JOÃO PAULO DE OLIVEIRA FARIAS.

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    1. Olá João Paulo!
      Penso que a maior dificuldade encontra-se no próprio racismo e sexismo que permeiam as relações. Por ser do interesse de poucos/as educadores/as, muitas vezes tais temáticas são vistas como excêntricas. As discussões com os/as estudantes precisam ser recorrentes e partir de eventos cotidianos.
      Andreia Costa Souza

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  8. Olá Andreia!

    Primeiramente, parabenizo-la pela pesquisa visto a relevância da abordagem conceitual que fizeste ao mesclar as interseccionalidades de raça e gênero com o Ensino de História. Seu trabalho também inova na proposição metodológica a partir desse viés e certamente contribui para uma educação antirracista e sexista através do Ensino de História, tornando-o ainda mais pertinente para uma formação equitativa.

    Noto que sua pesquisa visibiliza as alunas quando parte da proposição de percepção destas quanto a seu lugar social e de fala (mulher negra), com intuito de propiciar uma percepção crítica das origens históricas e políticas das práticas racistas e sexistas e das formas como elas se mantém e reinventam nas relações de poder. Pensando no contexto escolar e nos efeitos que sua proposta ocasiona, quero saber se você tem alguma proposição metodológica que permita uma análise do alcance da mudança de postura e práticas por parte dos alunos a médio e longo prazo?

    Também quero saber sua percepção quanto a postura do professor de História enquanto sujeito que pode romper ou mesmo reforçar práticas que invisibilizam as mulheres negras no âmbito escolar. Como o docente pode fazer para superar as dificuldades de ter um livro didático (tido como base para o estudo da história em sala de aula visto que para alguns alunos essa é a única fonte do conhecimento histórico acessível) que ainda tem uma abordagem tão insuficiente e superficial sobre essa temática?


    Atenciosamente,

    Priscila Cabral de Sousa

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  9. Grata pelas ótimas considerações Priscila!
    Após o término de todas as oficinas previstas na formação, foi realizada uma atividade de produção de cartazes em que diferentes grupos da turma poderiam expressar opiniões sobre como combater o machismo e o sexismo. Foi uma experiência muito interessante!
    Quanto a segunda questão, considero que o docente, ainda mais no contexto histórico-político em que nos encontramos, deverá propor atividades que ultrapassem os limites do material didático. Acredito também que intervenção sobre essas temáticas pode também ser proposta como um projeto a ser desenvolvido ao longo de todo o ano letivo.

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  10. Além da atividade dos cartazes também foi aplicado questionário para avaliar os progressos nos conhecimentos na temática, que implicam, como bem pontuou, novas posturas e atitudes. Ass.: Andreia Costa Souza

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